sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"Os homens que não amavam as mulheres" é um filme de uma única personagem que atende pelo nome de Lisbeth

Adoro ver uma interpretação em que o ator/atriz se joga no papel de corpo e alma. Sabe aquelas interpretações em que o artista deixa de lado toda vaidade e beleza para encarnar os mais diversos tipos humanos? Aqueles atores que não têm pudores em cenas mais fortes, como as que contém sexo e violência, ou até mesmo aquelas cenas que exijam desse mesmo ator capacidade extremada de transformação que o leve ao limite? Pois é, sabe atuação memorável? Isso é o que se encontra no filme "Millenium - Os homens que não amavam as mulheres".

Rooney Mara (Já ouviu falar dela?) é o motivo pelo qual vale cada centavo do ingresso do filme. Lisbeth, a personagem que ela encarna, é sofrida, vítima de estupros, sozinha no mundo, acusada de vários crimes, com várias passagens por clínicas de reabilitação, enigmática, soturna, lacônica, irascível, frágil... e além de tudo isso, muito inteligente. Essa é uma daquelas personagens que exige uma grande atriz, com carga dramática fortíssima e convicente, para dar conta das nuances do papel. A escolha de Rooney foi das mais felizes. É ela quem carrega todo o filme. É ela quem dá emoção ao filme. É ela quem faz as cenas mais fortes e impactantes (a cena do estupro certamente ficará na mente de muita gente por muito tempo). É ela quem enche a tela. Enfim, trata-se de uma heroína trágica. Não é em vão que o título americano do filme "The girl with the dragon tattoo" foca claramente na personagem feminina. O título brasileiro é uma tradução mais próxima do original sueco.

Posso estar exagerando, mas na minha opinião, não consegui ao longo de quase 3 horas de filme enxergar nada melhor. Não que o filme seja ruim, não é isso. A fotografia, a trilha-sonora, as locações na fria Suécia e o clipe de abertura são excelentes e dão o tom tenso necessário ao filme. "Os homens que não amavam as mulheres" tem a mão de David Fincher na direção e isso já é garantia de algo no mínimo bom. O cineasta ficou famoso por filmes com temática de serials killers, vide "Seven" e "Zodíaco". Nesse filme, porém, ele faz um produto com sua marca voltado, no entanto, para o entretenimento hollywoodiano adulto e para gerar lucro. Isso fica ainda mais evidente ao sabermos que é uma adaptação baseada em uma trilogia de livros suecos que virou sucesso nas livrarias mundiais, fórmula que tem gerado grana alta para os estúdios de cinema.

A história gira em torno de uma investigação de um crime ocorrido há 40 anos dentro de uma abastada família sueca. O jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) tem sua vida profissional abalada após uma reportagem na qual o acusaram de difamação. Sua carreira sofre um tremendo golpe que afeta até a própria revista onde trabalha, a famosa "Millenium" que dá título a série de livros. A chance de se reerguer vem do milionário Henrik Vanger (Christopher Plummer) que o contrata para investigar o desaparecimento de sua sobrinha, um mistério que ninguém nunca resolveu. O filme vai desenvolvendo a história da hacker Lisbeth e do jornalista Blomkvist de forma independente, até o momento do encontro. Nesse ponto da projeção, o enredo ganha ainda mais intensidade. Não é um encontro comum. Trata-se da reunião de dois seres humanos desconcertados com o mundo em que vivem e que unem forças para resolver um quebra-cabeça familiar. Esse é o universo retratado pelo filme: crimes sem solução, familiares que não se falam há anos, pessoas difamadas e violentadas. Um mundo sem conexão, sem laços fortes, sem sentimentos. Não é à toa que a relação de Lisbeth com Blomkvist acaba tornando-se um oásis em meio à tanta frieza.

"Os homens que não amavam as mulheres" é uma produção de pontos altos e baixos, pois se trata, digamos assim, de um trabalho mais burocrático de David Fincher. Por ter a sua "marca registrada", o filme consegue prender a atenção com uma atmosfera de suspense que o cineasta tão bem sabe construir. Porém, a narrativa tem momentos bastante mirabolantes que torna o filme, em muitos aspectos, um pouco inverossímil. O final que se explica demais, na minha opinião, é um ponto falho. Há também alguns furos no roteiro fáceis de detectar num olhar mais atento, mas isso já não é culpa do cineasta e sim da obra literária na qual o filme se inspirou. Mas no final, fica a sensação de ter visto um bom filme, competente, visualmente interessante e acima da média em se tratando de um entretenimento voltado para adultos, mas não é nenhuma novidade se você já viu outros filmes de Fincher.

De fato, o que marca é a atuação de Rooney Mara, uma atriz de 26 anos que ganhou espaço no cinema mais precisamente a partir de sua atuação em "A Rede Social" e que até então não tinha feito nada de significativo. E como uma grande interpretação quase nunca passa despercebida. Vários prêmios têm lembrado o nome da atriz em suas seleções, inclusive o prêmio máximo do cinema, o Oscar no qual ela concorre ao prêmio de melhor atriz. Sua atuação como Lisbeth é tão brilhante que atores como Daniel Craig, Christopher Plummer e Stellan Skarsgard ficaram parecendo coadjuvantes de luxo. Enfim, o filme é todo dela.

2 comentários:

  1. Oi amiiigoooooo!!
    Olha eu estou doida pra ver esse filme, mas estava pesquisando na internet e lendo uns resumos sobre a trilogia millenium fiquei com uma dúvida: esse é o primeiro filme mesmo?
    Porque me pareceu que os outros livros falam da história de Lisbeth antes desse ocorrido...
    Me ajude a compreender essa linha histórica!!!

    Ahm e antes que eu me esqueça: seu blog é simplesmente PERFEITO!!!!

    bj bj

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  2. Oi, Lê. Assista o filme quando puder, é legal. Olha só, esse é o primeiro filme mesmo, baseado no primeiro livro. Nos próximos, a história dos dois protagonistas continua linear aos fatos que aconteceram no primeiro livro, no entanto, eles terão outros desafios para enfrentar. A ideia do cinema, segundo informações, é fazer os dois próximos filmes ao mesmo tempo e lançá-los num intervalo de 6 meses entre uma estreia e outra. Pelo que sei, a história de Lisbeth nos livros seguintes revela mais detalhes de sua vida, já que ela é bastante enigmática e tem um passado de muita violência. Não tem história ocorrida antes dos acontecimentos do primeiro livro, é linear. Ah, obrigado pelo "PERFEITO"...rs...Um elogiozinho é sempre bom :)

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