sábado, 25 de fevereiro de 2012

Oscar 2012: Woody Allen

De todos os indicados ao Oscar em 2012, Woody Allen merecia atenção especial. Tudo bem que ele talvez não compareça à festa, postura já bastante conhecida de quem acompanha sua carreira. O diretor de filmes já oscarizados como "Noivo neurótico, noiva nervosa" (1977) e "Hannah e suas irmãs" (1986) não dá a mínima para a Academia, simplesmente porque ele sabe que o que impera ali é a superficialidade em detrimento da profundidade. Woody Allen defendeu durante toda a sua carreira cinematográfica, composta de quase 50 filmes, um cinema de baixo orçamento. Simples na feitura, grande no roteiro. Ele não se preocupa se suas obras serão sucessos comerciais ou ganharão prêmios, o que mais importa são as histórias que deseja contar, mesmo que para isso tenha que sacrificar bilheterias. Definitivamente, o que Woody Allen menos quer é participar da hipocrisia e disputa de egos que rola no tapete vermelho hollywoodiano.

Por manter uma carreira tão ativa durante tanto tempo, sempre acreditando num cinema autoral, não vejo quem mereça mais congratulações que o cineasta de "Meia-noite em Paris". O mais recente longa-metragem é uma verdadeira ode à inteligência. Poucos artistas conseguiriam demonstrar tanta intelectualidade sem parecerem pedantes. Como escreveu o professor de cinema da UFG, Lisandro Nogueira: "Woody Allen despedantiza a arte". Realmente, o cineasta de "Vicky Cristina Barcelona" (um dos meus filmes favoritos) nos presenteou com um filme divertido, leve e irônico, e o melhor, em momento algum da projeção torna-se chato. Conseguiu até extrair uma convicente atuação do ator Owen Wilson, que poderia, na minha opinião, figurar entre os indicados ao Oscar de melhor ator. Ele representou muito bem o papel do homem comum, sonhador, meio perdido nos próprios pensamentos e entusiasmado com a vida artística. É pelo olhar que ele entrega o melhor de sua performance. Ao criar um mundo fantástico no qual o escritor Gil (Owen Wilson) acaba por esbarrar em sumidades das artes, Allen traz para o cinema as importantes figuras dos escritores Gertrude Stein, F. Scott Fitzgerald, William Faukner, Ezra Pound e T.S Elliot, além dos pintores Pablo Picasso, Salvador Dalí e do cineasta Luís Bruñuel. Os encontros entre Gil e os célebres artistas geram cenas engraçadíssimas e, certamente, as piadas mais sagazes do cinema nos últimos tempos.

Em "Meia-noite em Paris", o roteirista de Hollywood, Gil Pendler, busca nas ruas parisienses a inspiração para terminar um livro pelo qual pretende ficar reconhecido. Ele imagina a Paris dos anos 20 como a época perfeita para se viver. Daí, ao encontrar uma fenda no tempo, acaba por encontrar todos àqueles os quais mais idolatrava na vida. A proposta de Allen é mostrar o descompasso entre aquilo que vivemos e aquilo que queremos viver. O ideal e o real. O sonho e a realidade. O filme também pode ser lido como um verdadeiro tapa na cara de uma sociedade muito mais apegada ao consumo da arte do que a arte em si mesma. Basta observarmos a forma desacreditada com que a noiva e os sogros do protagonista veem a ideia dele de escrever o tal livro ou as críticas que recebe por seu comportamento diante da vida cultural francesa. Que atire a primeira pedra aquele que se relaciona de alguma forma com as artes (eu me incluo aqui) que nunca foi alvo de alguma piadinha infame que o fez sentir-se meio (ou totalmente) fora de sintonia com o mundo.

A genialidade de "Meia-noite em Paris" provêm do inusitado. É um filme feito para ser visto com olhos bem abertos e atentos a cada detalhe (a fotografia do filme é primorosa). É também uma interessante e saborosa viagem pela capital francesa. Disseram que esse é ano do Oscar homenagear o próprio cinema com filmes como "O artista", um retorno aos filmes mudos e "A invenção de Hugo Cabret", um resgate das técnicas precursoras de cinema de George Mélies. Mas não vejo melhor homenagem à sétima arte do que o exercício imaginativo proposto por Woody Allen nesse filme. Afinal, toda vez que adentramos uma sala de cinema estamos predispostos a imaginar, viajar e sonhar. Por isso, o cineasta e seu excelente filme deveriam ser laureados, mesmo que o premiado não comparecesse à festa para receber os prêmios.

Enfim, se o Oscar fosse um lugar justo, 2012 seria o ano em que grandes nomes seriam ovacionados. Além do cineasta novaiorquino, nomes como Meryl Streep, Christopher Plummer e Gary Oldman, expoentes de tudo o que é acima da média, deveriam sair no dia 26 de fevereiro com uma estatueta em mãos. Não que eles precisem disso, talento eles já provaram de sobra e não é um prêmio como o Oscar que os farão melhores. No entanto, premiando-os, a arte, o talento e a criatividade também estariam sendo premiados.

Para o bem ou para o mal, o Oscar acontecerá amanhã e será exibido, como sempre, de forma retalhada pela Globo. A melhor opção é o canal pago TNT.

2 comentários:

  1. Como já disse em outro comentário, Allen é um de meus cineastas preferidos! Acho impressionante sua capacidade de fazer uma comedia inteligente, que consegue falar sobre questões existenciais. Me identifiquei muito com o personagem de "Meia-noite em Paris", pois já me acostumei a ser visto como um sonhador e tal... uma pessoa alienada, enfim. Pobres mortais... rs

    ResponderExcluir
  2. É, Paulo, eu também já me acostumei com essa dissonância com o mundo...Fazer o quê? Além de fazer comédias inteligentes, como você mesmo disse, acho impressionante a longevidade da carreira de Woody Allen. Aos 76 anos(senão me engano), ele ainda consegue realizar filmes tão bons como os que têm feito, acho isso fantástico. Prova de que a idade é só um detalhe na vida de uma pessoa.

    ResponderExcluir