segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscar 2012: Meryl Streep rouba a cena

Quando a atriz Meryl Streep ganhou seu primeiro Oscar por sua atuação no filme "Kramer X Kramer" em 1979, eu estava para nascer em alguma maternidade na cidade de Niterói. Mas, eu só me dei conta da existência da atriz quando eu era um adolescente cheio de espinhas no rosto que reverenciava todo e qualquer filme com roteiro fugaz. Todo o resto era meio entediante para mim, algo aceitável em relação a um garoto de apenas quatorze anos. Foi nesses verdes anos de minha vida que assisti ao aventuresco "O rio selvagem" de 1994 (foto abaixo), um filme que narrava a história de uma família que realizava uma viagem de férias pelas corredeiras de um rio no interior dos EUA e que no caminho acabavam por encontrar perigosos ladrões que os faziam reféns. A mãe imbuída de um sentimento de proteção lutava para manter a sobrevivência dos entes queridos. Essa situação era motivo para gerar cenas de fuga e adrenalina as quais eu adorava e vibrava. A mãe em questão era interpretada por Meryl Streep em uma de suas poucas incursões no gênero aventura/ação.

De 1994 em diante, a atriz fez mais vinte filmes somando um total de quarenta e cinco filmes até agora, além de participações elogiadíssimas em séries de televisão. Já adulto e menos deslumbrado com o mundo dos filmes de entretenimento comecei a observar os motivos que a fizera ser uma das artistas mais aclamadas de todos os tempos. Todo mundo sempre falava tão bem dela que eu, como cinéfilo incipiente, precisava entender os motivos que a tornava tão única. Não foi preciso muito, apenas boa observação, para descobrir o segredo da atriz. A dona de interpretações dramáticas e sensíveis como sua personagem de "As pontes de Madison" (foto abaixo) transformava cada papel realizado numa proposta diferente de atuação e convencimento. Não é em vão que, atualmente, ela seja efusivamente vangloriada com um recorde de 17 indicações ao Oscar, feito notável e difícil de ser superado por quem quer que seja. A título de curiosidade, a única atriz com tantas indicações na história do cinema foi Katherine Hepburn que recebeu doze indicações e venceu quatro, sendo a recordista de Oscars vencidos como melhor atriz. Bette Davis concorreu a onze e levou dois. Hoje em dia empata com Hillary Swank, que apesar de poucas indicações já levou dois Oscars.

Na noite de ontem, a Academia de Artes e ciências cinematográficas de Hollywood, enfim, voltou a consagrar uma das melhores atrizes do cinema americano, após um jejum de trinta anos sem receber o prêmio. O último foi em 1982 por sua atuação em "A escolha de Sofia". De lá para cá, recebeu outras quinze indicações, somando as assombrosas dezessetes menções, agora com três Oscars vencidos. Foi um dos momentos mais emocionantes que a premiação proporcionou ao expectador. Meryl Streep simpática e humilde como sempre, agradeceu emocionada o prêmio conquistado por sua atuação no filme "A dama de ferro" (foto abaixo) e arrepiou o público ao dizer que talvez nunca mais pisaria naquele palco. Agradeceu em seguida a todos os amigos que se foram e os que ainda estavam por aqui. Foi um discurso simples e até meio fúnebre se formos atentar para as palavras proferidas, no entanto, foi nada mais nada menos que o autorreconhecimento de quem não precisa mais receber prêmios. De uma profissional das artes satisfeita com o ponto máximo que sua carreira alcançou.

A partir de agora, Meryl Streep deveria ser considerada hors-concours. Seu talento é venerado no mundo inteiro. Dez entre dez atrizes do cinema americano (e também mundial) deveriam se inspirar na atriz. Nas telas do cinema ela foi um pouco de tudo: dona de casa, mãe de família, uma mulher à beira da morte, jornalista, maconheira, uma editora de revista, psicóloga, lésbica e freira. Interpretou mulheres tímidas, frágeis, fortes, sofridas, solitárias, arrogantes, engraçadas, mentirosas e cínicas. Cada personagem, um rosto, um gesto, um olhar, um sorriso, uma técnica que dava novo e interessante rumo à história que se pretendia contar. Conseguiu aliar filmes pequenos e intimistas com produções mais badaladas como o recente “O diabo veste Prada” (foto abaixo) que se tornou um sucesso de bilheteria e cultuado no mundo inteiro. Definitivamente, aqui reside a diferença abissal entre ser uma pretensa atriz e ser uma atriz de verdade. Em tempos de artista que não faz arte, Meryl Streep é um exemplo a ser seguido.

Com atuações marcantes no currículo como "O franco atirador", "Entre dois amores" "Ironweed" e outras engraçadas como "Julie e Julia", "Terapia do amor" e "Simplesmente complicado", Meryl foi a verdadeira artista da festa, fazendo um trocadilho descarado com o filme vencedor da categoria principal. Ela sempre rouba discretamente a cena para si até nos momentos mais improváveis. Na premiação do Oscar não foi diferente. Apesar de "O Artista" ser o grande vencedor da noite com cinco Oscars, incluindo o de melhor filme, ator (Jean Dujardin), direção (Michael Hazanavicious), figurino e trilha-sonora e "A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese também consagrar-se com cinco Oscars em categorias técnicas: fotografia, direção de arte, edição de som, mixagem de som e efeitos visuais, a festa do dia 26 de fevereiro foi unicamente marcada e será eternamente lembrada pela inteligência, elegância e talento de Meryl Streep.

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