sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O estranho mundo do Oscar - Cultura pop

Continuando a discorrer sobre as incongruências do Oscar, começo esse post fazendo uma pergunta: por que o prêmio mais importante do cinema americano não premia seus filmes mais pop? Aqueles filmes destinados ao entretenimento, mas que nem por isso deixam de contar boas histórias que nos façam pensar e refletir mesmo que a proposta mais geral seja a diversão do público. O cinema blockbuster, como são chamados os filmes americanos mais comerciais, é adorado no mundo inteiro, lota salas de cinema e rende muita grana aos cofres dos estúdios, mas são totalmente execrados em premiações. Na minha opinião, isso é muito contraditório. Tal atitude parece um atestado da pouca qualidade desses filmes. Seria isso? Não! Definitivamente, não é isso. É claro que vivemos em uma época na qual as coisas andam bastante banalizadas e o cinema não foge à regra (Falei sobre o entretenimento vazio que vem dominando as salas de cinema em post sobre os filmes mais vistos do ano). No entanto, há muitos filmes ditos "comerciais" que se salvam como exceções no meio da precariedade criativa de muitos roteiristas e cineastas.

O Oscar, como prêmio que louva o cinema produzido em território norte-americano, deveria ao menos olhar com mais atenção para os filmes que têm realizado, não importando o gênero. Um exemplo que marcou essa discussão ocorreu em 2008 quando “Batman – O cavaleiro das trevas” (foto abaixo) quase foi indicado ao Oscar de melhor filme. A situação gerou um burburinho daqueles. Uns, obviamente, foram contra. Outros, a favor. Entre os que defenderam a indicação do filme do homem-morcego, alegava-se que estava na hora do maior prêmio do cinema acordar para os novos tempos nos quais filmes baseados em HQs fazem parte da cultura e não necessariamente são sinônimos de obras ruins. Por fim, o Oscar preferiu a indicação do filme "O leitor" e ignorou aquele que foi um dos maiores sucessos de bilheteria daquele ano e um dos mais elogiados de todos os tempos. Afinal, “Batman – O Cavaleiro das trevas” não foi somente um filme inspirado em um dos personagens mais famosos de histórias em quadrinhos, foi também um longa-metragem que abordou a questão da insanidade como há muito tempo não se via no cinema. Temas como caráter, ética, anarquia e violência permearam cada frame do filme. Vai dizer que isso tudo é descartável só porque é entretenimento?

Acontece que o Oscar sempre tratou com certo desdém qualquer filme que tivesse um cunho um pouco mais pop. E isso faz parte de uma cultura que é vivenciada em todos os cantos do mundo. Filmes baseados em histórias em quadrinhos, universos fantásticos, policiais, aventuras e etc são sempre vistos, pelos ditos formadores de opinião, como objetos de qualidade duvidosa, geralmente, destinados a crianças e adolescentes. Entra aqui, a velha peleja do que é arte ou do que é entretenimento, como se os dois não pudessem conviver juntos em harmonia. Há muita generalização nessa visão de mundo e isso me desagrada bastante. Deve ser por isso que ícones do cinema como Charles Chaplin e Alfred Hithcock (foto abaixo) nunca levaram para casa um Oscar sequer. Os dois cineastas eram muito mais próximos de uma estética pop que com o passar do tempo acabou tornando-se mais cult e assim, respeitável.

É bem verdade, que a Academia sempre privilegiou o drama como gênero supremo e digno de prêmios. Houve exceções, como os prêmios para os suspenses “Um estranho no ninho” de 1976 e “O silêncio dos inocentes” de 1992 (foto abaixo). A comédia é o segundo gênero mais premiado, porém, relativizando com o número de dramas é uma quantidade quase insignificante. Até entendo que essa preferência por filmes dramáticos ocorra em premiações como Cannes e o Sundance, afinal esses eventos tentam premiar o cinema independente de baixo orçamento de uma forma geral. Mas vindo de um prêmio criado pela indústria do cinema, realmente não consigo entender. Aliás, tenho uma teoria. O Oscar só não premia ou indica seus filmes mais pop porque tem um medo absurdo de perder o posto de premiação honorável.

Essa postura também deve explicar, em parte, o descaso do Oscar com o ator Jim Carrey, por exemplo. Ele realizou filmes maravilhosos como “O show de Truman” e “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (foto abaixo), mas foi totalmente ignorado pelos votantes da Academia. Certamente, sua imagem deve estar ainda bastante vinculada aos filmes de comédia descerebrada que o projetou à fama.

Seria inteligente, e até divertido, se da parte de quem organiza e vota no Oscar ao menos fosse criada uma categoria para os filmes mais pop que não deixassem de lado a qualidade de seus roteiros, é claro. Poderia ser um “Best Blockbuster Movie” ou algo semelhante. Em 2011, para citar alguns filmes, ouve uma leva de filmes de alma pop mas que não deixaram de ser interessantes por causa disso. Filmes como “X-Men: Primeira Classe”, “Planeta dos macacos: A origem”, “Gigantes de ferro”, “Super 8” e “Drive” são filmes que apesar de serem entretenimento descarado foram muitíssimo bem feitos. O Oscar deveria não ter medo de mudar e inovar. Deveria ser pop sem exageros e cult sem ser chato.

A premiação do Oscar 2012 ocorre neste domingo, dia 26 de fevereiro.

2 comentários:

  1. Bem interessante seu texto, Flávio. Bom, confesso que passo muito e muito longe dos filmes blockbuster; realmente não tenho paciência para eles! Também não ligo muito para premiações como o Oscar (vide, por exemplo, o absurdo de terem desconsiderado completamente filmes geniais como os do Jim Carrey que você citou). Um dos meus cineastas preferidos, Woddy Allen, creio que também não vê com bons olhos esse tipo de premiação, pois, embora já tenha sido indicado mais de 20 vezes, só compareceu a uma (e só porque foi fazer uma homenagem às vítimas do 11 de setembro).

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  2. Concordo com você, Paulo. Realmente é preciso paciência para assistir a filmes blockbuster, ainda mais nos dias de hoje nos quais a pobreza criativa comanda tudo. Mas eu sou um cinéfilo inveterado e acabo assistindo um pouco de tudo, sempre com o espírito crítico aguçado, é claro. Também tenho Woody Allen entre os meus favoritos, talvez seja o melhor cineasta ainda vivo em atividade. Eu entendo a decisão dele de não comparecer ao Oscar, ele sabe muito bem que aquilo tudo é muito limitado e não é certificado de qualidade para nada. Por isso acredito que seria muito melhor se a premiação não se levasse tão a sério.

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