sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O estranho mundo do Oscar

A partir de hoje irei postar algumas linhas sobre o maior prêmio do cinema, o Oscar. Na verdade, pretendo lançar um olhar sobre algumas esquisitices, estranhezas e contradições existentes na festa do cinema americano e que ninguém, por mais que tente, consegue entender.

O Oscar surgiu como forma de incentivar a produção de novos filmes nos longínquos anos 20, o primeiro longa-metragem a ganhar uma estatueta dourada chamava-se "Asas" de 1929 (foto abaixo). Durante algum tempo, a premiação representou tudo o que o cinema norte-americano produzia de melhor. No entanto, nos últimos anos não é bem assim que as coisas têm transcorrido. Filmes de gosto duvidoso têm entrando na lista de indicados contrariando toda e qualquer expectativa.


Antigamente, e por muito tempo, eram cinco indicados à categoria principal, mas por circunstâncias muito estranhas, a Academia do cinema americano resolveu em 2011 aumentar para dez o número de selecionados. O argumento para essa modificação foi de que, assim, as chances de outros filmes serem indicados seriam maiores. Todo mundo sabe que uma indicaçãozinha qualquer ao prêmio serve como uma tremenda propaganda para aquele filme pequeno, independente, que seria apenas comentado por quem frequenta salas de cinema alternativo. Foi assim com o recente vencedor de 2010, "Guerra ao terror" (foto abaixo), que já se encontrava empoeirado nas prateleiras das locadoras e de repente, ao ser indicado, teve seu valor repensado e muita gente se deu conta de que o filme simplesmente existia e era bom. Nessa atitude de ampliação, vejo um viés muito mais forte de marketing do que de bondade.


Os critérios de seleção dos indicados à categoria "Best Movie" são contraditórios. Quantos grandes filmes não poderiam estar ilustrando a lista de indicações e por fim acabaram nem sequer sendo lembrados? (Falei disso no post anterior abordando o filme "A pele que habito"). Quantos filmes teriam tudo para ganhar, mas terminaram preteridos em função de outros com potencial muito menor para serem vencedores? De fato, balizar filmes numa relação de melhores é uma tarefa ingrata porque essas seleções jamais darão conta da complexidade do que é e está sendo feito.

Casos bem inusitados ocorreram recentemente. Em 2006, entre os cinco indicados, havia um filme favorito ao prêmio que se chamava "O segredo de Brokeback mountain" (foto abaixo) que todo mundo tinha certeza de que esse seria o vencedor daquela noite, no entanto, para supresa de todos, quem ganhou foi "Crash: No limite", o filme que para todos era o azarão dentre os outros indicados. Algumas pessoas mais afoitas, acusaram a Academia de homofóbica, já que o tema do filme abordava a relação proibida nos anos 60 entre dois caubóis interpretados pelo falecido Heath Ledger e por Jake Gyllenhall.


No ano passado, fato semelhante aconteceu quando o Oscar resolveu premiar "O discurso do rei" em vez de "A rede social" (foto abaixo). Não que o filme estrelado por Colin Firth fosse ruim, não. "O discurso do rei" é um excelente filme, porém, sua narrativa de superação já foi vista trilhões de vezes no cinema, enquanto que o moderno "A rede social" era o filme mais inovador naquela ocasião e falava de um tema muito mais consoante com os tempos atuais: a solidão de jovens que em tempos de tantas tecnologias vivem isolados e mal conseguem manter suas relações sociais, o que inclui namoro e amizades.


São nesses momentos que o Oscar decepciona. O prêmio de maior visibilidade do cinema deveria levar em conta muito mais a sua veia de eternizar grandes filmes e não apenas premiar para dizer nas entrelinhas "estou premiando esse filme porque esse filme tem qualidade". Tanto "O segredo de Brokeback mountain" quanto "A rede social" são filmes que por suas temáticas são inovadores e originais sem deixar de lado a necessária qualidade artística. Interessante notar que essas produções já se eternizaram mesmo sem a chancela do Oscar. Enquanto "Crash" e "O discurso do rei" têm estampa de filmes que com o tempo todo mundo esquece. O problema do Oscar é que ele se leva a sério demais. Permeia por todo o evento um medo de se reiventar, um conservadorismo exagerado, um quê de timidez de dar um passo a frente e ousar.

Agora, em 2012, foram indicados nove filmes. Ué, não eram dez? Sim, eram. Mas a Academia agora faz uma matemática super complicada em que os indicados tem que ter a mesma margem de porcentagem para figurarem na lista. Assim sendo, se uma película não alcançar a tal margem de porcentagem, num total de 6 mil votantes, ela fica de fora. Esse ano, apenas nove conseguiram alcançar a tal porcentagem entre os votantes."O artista" dispara na frente como favorito, mas disputa a atenção com o "A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese. Quem deve ganhar? O filme em preto e branco que faz o público olhar para um passado remoto quando os filmes ainda eram mudos? Ou o longa-metragem em 3D de cunho infanto-juvenil, o primeiro dirigido por um cineasta que ficou famoso por realizar filmes de gângsters? O conservadorismo ou a modernidade? Mas uma vez o Oscar se divide e provavelmente fará a escolha óbvia.

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