terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Hugo Cabret, George Méliès e Smashing Pumpkins

Um dos filmes mais comentados da atualidade é "A invenção de Hugo Cabret". Depois de sair, na noite do dia 26 de fevereiro, com cinco oscars em categorias técnicas, a produção do cineasta Martin Scorsese endossou sua fama de melhor filme em 3D realizado até agora. Se "Avatar" de James Cameron foi o filme que praticamente fez do 3D uma tendência no cinema, "Hugo Cabret" abriu uma brecha para que longas-metragens mais "sérios" também se utilizem da mesma tecnologia. A repercussão de "Hugo Cabret" se explica em parte por ser um retorno às técnicas cinematográficas de George Méliès, que praticamente instituiu o cinema da forma como o vemos hoje. Vamos ao cinema constantemente e, muitas vezes, não nos damos conta de que alguém em algum tempo remoto parou, pensou, imaginou, refletiu e criou tudo aquilo que hoje torna nossas vidas mais divertidas e emocionantes.

Para quem se interessa por detalhes da arte cinematográfica tanto quanto eu, entender as criações de Méliès é adentrar num mundo cheio de pequenas, mas fantásticas revelações. Afinal, é por meio da forma de fazer filmes que acabamos imergindo para mundos tão diversos que, se não fosse pela arte cinematográfica, talvez ficássemos sem essa maravilhosa capacidade de transportamento. George Méliès, para quem não o conhece, foi o cineasta precursor do incipiente cinema do início do século XX por "Viagem à lua" (Le Voyage dans la lune) de 1902. Antes desse filme, os irmãos Lumière, considerados os fundadores do cinema (junto à Méliès), filmavam coisas simples como cenas do cotidiano, pessoas caminhando pelas ruas e a famosa cena da locomotiva numa ferrovia, considerada por muitos uma das primeiras imagens de cinema. Quando George Mélies surgiu com "Viagem à lua" técnicas de montagem, sobreposição de cenas e efeitos visuais passaram a fazer parte da hipnótica arte aqui comentada.

Mélies era mágico-ilusionista e soube empregar muito bem seus truques na sétima arte. Seus filmes usaram a montagem de forma excepcional para a época e ele foi o primeiro a criar projeções com narrativas. Assim, empregou técnicas de filmes de ficção e animação muito antes de Hollywood tornar-se a fábrica de ilusões e sonhos que é hoje. Consta na história que Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica e do gramofone, se apropriou descaradamente da arte de Méliès e passou a exibir seus filmes nos EUA como se fosse o responsável por tudo. Isso acabou lhe dando fama no lugar do cineasta francês, que morreu na pobreza e, apesar da produtividade (mais de 500 filmes feitos, a maioria perdido no tempo), ele só teve o reconhecimento após a sua morte.

"Viagem à lua" teve como base de sua narrativa dois livros: "Da terra à lua" de Julio Verne e "Os primeiros homens na lua" de H.G. Wells. Foi o primeiro filme da história com mais de 10 minutos de projeção e foi filmado inteiramente com câmeras à manivela muito comum na virada do século XIX para o XX. Por ter seus direitos autorais expirados, o filme encontra-se em domínio público.

Vale recordar também que o videoclipe da música "Tonight tonight" dos Smashing Pumpkins de 1995 foi inspirado na obra de George Méliès, assim como o filme de Scorsese. Os diretores do video Jonathan Dayton e Valerie Faris filmaram tudo com câmera à manivela, criaram cenários teatrais e utilizaram-se de efeitos visuais da época. Conclusão: é um dos videoclipes mais criativos da história da música, o que resultou em muitos prêmios mundo afora, incluindo um Grammy.

Num mundo no qual as pessoas têm memória extremamente fraca e descartável e o interesse por cultura é bastante irregular, homenagens como essas, trazidas para o mundo pop, são mais que um exercício de cinema, são também verdadeiras aulas de história.

Abaixo, o videoclipe do Smashing Pumpkins e o filme de George Méliès supracitados.



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscar 2012: Meryl Streep rouba a cena

Quando a atriz Meryl Streep ganhou seu primeiro Oscar por sua atuação no filme "Kramer X Kramer" em 1979, eu estava para nascer em alguma maternidade na cidade de Niterói. Mas, eu só me dei conta da existência da atriz quando eu era um adolescente cheio de espinhas no rosto que reverenciava todo e qualquer filme com roteiro fugaz. Todo o resto era meio entediante para mim, algo aceitável em relação a um garoto de apenas quatorze anos. Foi nesses verdes anos de minha vida que assisti ao aventuresco "O rio selvagem" de 1994 (foto abaixo), um filme que narrava a história de uma família que realizava uma viagem de férias pelas corredeiras de um rio no interior dos EUA e que no caminho acabavam por encontrar perigosos ladrões que os faziam reféns. A mãe imbuída de um sentimento de proteção lutava para manter a sobrevivência dos entes queridos. Essa situação era motivo para gerar cenas de fuga e adrenalina as quais eu adorava e vibrava. A mãe em questão era interpretada por Meryl Streep em uma de suas poucas incursões no gênero aventura/ação.

De 1994 em diante, a atriz fez mais vinte filmes somando um total de quarenta e cinco filmes até agora, além de participações elogiadíssimas em séries de televisão. Já adulto e menos deslumbrado com o mundo dos filmes de entretenimento comecei a observar os motivos que a fizera ser uma das artistas mais aclamadas de todos os tempos. Todo mundo sempre falava tão bem dela que eu, como cinéfilo incipiente, precisava entender os motivos que a tornava tão única. Não foi preciso muito, apenas boa observação, para descobrir o segredo da atriz. A dona de interpretações dramáticas e sensíveis como sua personagem de "As pontes de Madison" (foto abaixo) transformava cada papel realizado numa proposta diferente de atuação e convencimento. Não é em vão que, atualmente, ela seja efusivamente vangloriada com um recorde de 17 indicações ao Oscar, feito notável e difícil de ser superado por quem quer que seja. A título de curiosidade, a única atriz com tantas indicações na história do cinema foi Katherine Hepburn que recebeu doze indicações e venceu quatro, sendo a recordista de Oscars vencidos como melhor atriz. Bette Davis concorreu a onze e levou dois. Hoje em dia empata com Hillary Swank, que apesar de poucas indicações já levou dois Oscars.

Na noite de ontem, a Academia de Artes e ciências cinematográficas de Hollywood, enfim, voltou a consagrar uma das melhores atrizes do cinema americano, após um jejum de trinta anos sem receber o prêmio. O último foi em 1982 por sua atuação em "A escolha de Sofia". De lá para cá, recebeu outras quinze indicações, somando as assombrosas dezessetes menções, agora com três Oscars vencidos. Foi um dos momentos mais emocionantes que a premiação proporcionou ao expectador. Meryl Streep simpática e humilde como sempre, agradeceu emocionada o prêmio conquistado por sua atuação no filme "A dama de ferro" (foto abaixo) e arrepiou o público ao dizer que talvez nunca mais pisaria naquele palco. Agradeceu em seguida a todos os amigos que se foram e os que ainda estavam por aqui. Foi um discurso simples e até meio fúnebre se formos atentar para as palavras proferidas, no entanto, foi nada mais nada menos que o autorreconhecimento de quem não precisa mais receber prêmios. De uma profissional das artes satisfeita com o ponto máximo que sua carreira alcançou.

A partir de agora, Meryl Streep deveria ser considerada hors-concours. Seu talento é venerado no mundo inteiro. Dez entre dez atrizes do cinema americano (e também mundial) deveriam se inspirar na atriz. Nas telas do cinema ela foi um pouco de tudo: dona de casa, mãe de família, uma mulher à beira da morte, jornalista, maconheira, uma editora de revista, psicóloga, lésbica e freira. Interpretou mulheres tímidas, frágeis, fortes, sofridas, solitárias, arrogantes, engraçadas, mentirosas e cínicas. Cada personagem, um rosto, um gesto, um olhar, um sorriso, uma técnica que dava novo e interessante rumo à história que se pretendia contar. Conseguiu aliar filmes pequenos e intimistas com produções mais badaladas como o recente “O diabo veste Prada” (foto abaixo) que se tornou um sucesso de bilheteria e cultuado no mundo inteiro. Definitivamente, aqui reside a diferença abissal entre ser uma pretensa atriz e ser uma atriz de verdade. Em tempos de artista que não faz arte, Meryl Streep é um exemplo a ser seguido.

Com atuações marcantes no currículo como "O franco atirador", "Entre dois amores" "Ironweed" e outras engraçadas como "Julie e Julia", "Terapia do amor" e "Simplesmente complicado", Meryl foi a verdadeira artista da festa, fazendo um trocadilho descarado com o filme vencedor da categoria principal. Ela sempre rouba discretamente a cena para si até nos momentos mais improváveis. Na premiação do Oscar não foi diferente. Apesar de "O Artista" ser o grande vencedor da noite com cinco Oscars, incluindo o de melhor filme, ator (Jean Dujardin), direção (Michael Hazanavicious), figurino e trilha-sonora e "A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese também consagrar-se com cinco Oscars em categorias técnicas: fotografia, direção de arte, edição de som, mixagem de som e efeitos visuais, a festa do dia 26 de fevereiro foi unicamente marcada e será eternamente lembrada pela inteligência, elegância e talento de Meryl Streep.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Oscar 2012: Woody Allen

De todos os indicados ao Oscar em 2012, Woody Allen merecia atenção especial. Tudo bem que ele talvez não compareça à festa, postura já bastante conhecida de quem acompanha sua carreira. O diretor de filmes já oscarizados como "Noivo neurótico, noiva nervosa" (1977) e "Hannah e suas irmãs" (1986) não dá a mínima para a Academia, simplesmente porque ele sabe que o que impera ali é a superficialidade em detrimento da profundidade. Woody Allen defendeu durante toda a sua carreira cinematográfica, composta de quase 50 filmes, um cinema de baixo orçamento. Simples na feitura, grande no roteiro. Ele não se preocupa se suas obras serão sucessos comerciais ou ganharão prêmios, o que mais importa são as histórias que deseja contar, mesmo que para isso tenha que sacrificar bilheterias. Definitivamente, o que Woody Allen menos quer é participar da hipocrisia e disputa de egos que rola no tapete vermelho hollywoodiano.

Por manter uma carreira tão ativa durante tanto tempo, sempre acreditando num cinema autoral, não vejo quem mereça mais congratulações que o cineasta de "Meia-noite em Paris". O mais recente longa-metragem é uma verdadeira ode à inteligência. Poucos artistas conseguiriam demonstrar tanta intelectualidade sem parecerem pedantes. Como escreveu o professor de cinema da UFG, Lisandro Nogueira: "Woody Allen despedantiza a arte". Realmente, o cineasta de "Vicky Cristina Barcelona" (um dos meus filmes favoritos) nos presenteou com um filme divertido, leve e irônico, e o melhor, em momento algum da projeção torna-se chato. Conseguiu até extrair uma convicente atuação do ator Owen Wilson, que poderia, na minha opinião, figurar entre os indicados ao Oscar de melhor ator. Ele representou muito bem o papel do homem comum, sonhador, meio perdido nos próprios pensamentos e entusiasmado com a vida artística. É pelo olhar que ele entrega o melhor de sua performance. Ao criar um mundo fantástico no qual o escritor Gil (Owen Wilson) acaba por esbarrar em sumidades das artes, Allen traz para o cinema as importantes figuras dos escritores Gertrude Stein, F. Scott Fitzgerald, William Faukner, Ezra Pound e T.S Elliot, além dos pintores Pablo Picasso, Salvador Dalí e do cineasta Luís Bruñuel. Os encontros entre Gil e os célebres artistas geram cenas engraçadíssimas e, certamente, as piadas mais sagazes do cinema nos últimos tempos.

Em "Meia-noite em Paris", o roteirista de Hollywood, Gil Pendler, busca nas ruas parisienses a inspiração para terminar um livro pelo qual pretende ficar reconhecido. Ele imagina a Paris dos anos 20 como a época perfeita para se viver. Daí, ao encontrar uma fenda no tempo, acaba por encontrar todos àqueles os quais mais idolatrava na vida. A proposta de Allen é mostrar o descompasso entre aquilo que vivemos e aquilo que queremos viver. O ideal e o real. O sonho e a realidade. O filme também pode ser lido como um verdadeiro tapa na cara de uma sociedade muito mais apegada ao consumo da arte do que a arte em si mesma. Basta observarmos a forma desacreditada com que a noiva e os sogros do protagonista veem a ideia dele de escrever o tal livro ou as críticas que recebe por seu comportamento diante da vida cultural francesa. Que atire a primeira pedra aquele que se relaciona de alguma forma com as artes (eu me incluo aqui) que nunca foi alvo de alguma piadinha infame que o fez sentir-se meio (ou totalmente) fora de sintonia com o mundo.

A genialidade de "Meia-noite em Paris" provêm do inusitado. É um filme feito para ser visto com olhos bem abertos e atentos a cada detalhe (a fotografia do filme é primorosa). É também uma interessante e saborosa viagem pela capital francesa. Disseram que esse é ano do Oscar homenagear o próprio cinema com filmes como "O artista", um retorno aos filmes mudos e "A invenção de Hugo Cabret", um resgate das técnicas precursoras de cinema de George Mélies. Mas não vejo melhor homenagem à sétima arte do que o exercício imaginativo proposto por Woody Allen nesse filme. Afinal, toda vez que adentramos uma sala de cinema estamos predispostos a imaginar, viajar e sonhar. Por isso, o cineasta e seu excelente filme deveriam ser laureados, mesmo que o premiado não comparecesse à festa para receber os prêmios.

Enfim, se o Oscar fosse um lugar justo, 2012 seria o ano em que grandes nomes seriam ovacionados. Além do cineasta novaiorquino, nomes como Meryl Streep, Christopher Plummer e Gary Oldman, expoentes de tudo o que é acima da média, deveriam sair no dia 26 de fevereiro com uma estatueta em mãos. Não que eles precisem disso, talento eles já provaram de sobra e não é um prêmio como o Oscar que os farão melhores. No entanto, premiando-os, a arte, o talento e a criatividade também estariam sendo premiados.

Para o bem ou para o mal, o Oscar acontecerá amanhã e será exibido, como sempre, de forma retalhada pela Globo. A melhor opção é o canal pago TNT.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O estranho mundo do Oscar - Cultura pop

Continuando a discorrer sobre as incongruências do Oscar, começo esse post fazendo uma pergunta: por que o prêmio mais importante do cinema americano não premia seus filmes mais pop? Aqueles filmes destinados ao entretenimento, mas que nem por isso deixam de contar boas histórias que nos façam pensar e refletir mesmo que a proposta mais geral seja a diversão do público. O cinema blockbuster, como são chamados os filmes americanos mais comerciais, é adorado no mundo inteiro, lota salas de cinema e rende muita grana aos cofres dos estúdios, mas são totalmente execrados em premiações. Na minha opinião, isso é muito contraditório. Tal atitude parece um atestado da pouca qualidade desses filmes. Seria isso? Não! Definitivamente, não é isso. É claro que vivemos em uma época na qual as coisas andam bastante banalizadas e o cinema não foge à regra (Falei sobre o entretenimento vazio que vem dominando as salas de cinema em post sobre os filmes mais vistos do ano). No entanto, há muitos filmes ditos "comerciais" que se salvam como exceções no meio da precariedade criativa de muitos roteiristas e cineastas.

O Oscar, como prêmio que louva o cinema produzido em território norte-americano, deveria ao menos olhar com mais atenção para os filmes que têm realizado, não importando o gênero. Um exemplo que marcou essa discussão ocorreu em 2008 quando “Batman – O cavaleiro das trevas” (foto abaixo) quase foi indicado ao Oscar de melhor filme. A situação gerou um burburinho daqueles. Uns, obviamente, foram contra. Outros, a favor. Entre os que defenderam a indicação do filme do homem-morcego, alegava-se que estava na hora do maior prêmio do cinema acordar para os novos tempos nos quais filmes baseados em HQs fazem parte da cultura e não necessariamente são sinônimos de obras ruins. Por fim, o Oscar preferiu a indicação do filme "O leitor" e ignorou aquele que foi um dos maiores sucessos de bilheteria daquele ano e um dos mais elogiados de todos os tempos. Afinal, “Batman – O Cavaleiro das trevas” não foi somente um filme inspirado em um dos personagens mais famosos de histórias em quadrinhos, foi também um longa-metragem que abordou a questão da insanidade como há muito tempo não se via no cinema. Temas como caráter, ética, anarquia e violência permearam cada frame do filme. Vai dizer que isso tudo é descartável só porque é entretenimento?

Acontece que o Oscar sempre tratou com certo desdém qualquer filme que tivesse um cunho um pouco mais pop. E isso faz parte de uma cultura que é vivenciada em todos os cantos do mundo. Filmes baseados em histórias em quadrinhos, universos fantásticos, policiais, aventuras e etc são sempre vistos, pelos ditos formadores de opinião, como objetos de qualidade duvidosa, geralmente, destinados a crianças e adolescentes. Entra aqui, a velha peleja do que é arte ou do que é entretenimento, como se os dois não pudessem conviver juntos em harmonia. Há muita generalização nessa visão de mundo e isso me desagrada bastante. Deve ser por isso que ícones do cinema como Charles Chaplin e Alfred Hithcock (foto abaixo) nunca levaram para casa um Oscar sequer. Os dois cineastas eram muito mais próximos de uma estética pop que com o passar do tempo acabou tornando-se mais cult e assim, respeitável.

É bem verdade, que a Academia sempre privilegiou o drama como gênero supremo e digno de prêmios. Houve exceções, como os prêmios para os suspenses “Um estranho no ninho” de 1976 e “O silêncio dos inocentes” de 1992 (foto abaixo). A comédia é o segundo gênero mais premiado, porém, relativizando com o número de dramas é uma quantidade quase insignificante. Até entendo que essa preferência por filmes dramáticos ocorra em premiações como Cannes e o Sundance, afinal esses eventos tentam premiar o cinema independente de baixo orçamento de uma forma geral. Mas vindo de um prêmio criado pela indústria do cinema, realmente não consigo entender. Aliás, tenho uma teoria. O Oscar só não premia ou indica seus filmes mais pop porque tem um medo absurdo de perder o posto de premiação honorável.

Essa postura também deve explicar, em parte, o descaso do Oscar com o ator Jim Carrey, por exemplo. Ele realizou filmes maravilhosos como “O show de Truman” e “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (foto abaixo), mas foi totalmente ignorado pelos votantes da Academia. Certamente, sua imagem deve estar ainda bastante vinculada aos filmes de comédia descerebrada que o projetou à fama.

Seria inteligente, e até divertido, se da parte de quem organiza e vota no Oscar ao menos fosse criada uma categoria para os filmes mais pop que não deixassem de lado a qualidade de seus roteiros, é claro. Poderia ser um “Best Blockbuster Movie” ou algo semelhante. Em 2011, para citar alguns filmes, ouve uma leva de filmes de alma pop mas que não deixaram de ser interessantes por causa disso. Filmes como “X-Men: Primeira Classe”, “Planeta dos macacos: A origem”, “Gigantes de ferro”, “Super 8” e “Drive” são filmes que apesar de serem entretenimento descarado foram muitíssimo bem feitos. O Oscar deveria não ter medo de mudar e inovar. Deveria ser pop sem exageros e cult sem ser chato.

A premiação do Oscar 2012 ocorre neste domingo, dia 26 de fevereiro.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A arte minimalista de pôsteres de filmes

Eu adoro cinema em todos os sentidos. Observo tudo. Roteiro, atuações, fotografia, montagem, trilha-sonora e... pôster. Sim, a arte dos pôsteres de filmes me chamam bastante a atenção, principalmente quando tem como base de suas feituras a criatividade. Acho que todo cinéfilo deve ser assim, meio curioso com tudo o que envolve o mundo do cinema, uma das artes mais completas justamente por envolver todas as outras. Não foi em vão que escolhi como título deste blog "Do papel ao movimento", pois entre escrever um roteiro e ver o longa-metragem pronto rodando numa tela grande, há muitas outras etapas envolvidas e todas são do meu interesse.

Mas, voltando aos pôsteres (o plural de pôster é horrível, mas é assim mesmo). Quando uma dessas peças consegue ir além da imagem dos atores estampada no papel, algo que servia apenas para vender um filme acaba se transformando numa incrível superfície para arte. Bisbilhotando sites da internet, encontrei uma matéria que mostrava a criação de pôsteres minimalistas para filmes. De imediato, achei surpreendente. A ideia dessa arte é ser sóbria e focar diretamente no tema principal, sempre utilizando poucos elementos. Assim, podemos observar cartazes elegantes, criativos e inteligentes. Para quem viu os filmes e sabe do que a história trata, fica ainda mais interessante apreciá-los. Os trabalhos abaixo foram feitos pelo design Derek Eads e representam os filmes indicados ao Oscar desse ano ( o pôster de "A árvore da vida" para mim, é o melhor). Não são oficiais, mas poderiam, tranquilamente, ornamentar a entrada de qualquer sala de cinema.

O artista
A árvore da vida
Meia-noite em Paris
O homem que mudou o jogo
Histórias cruzadas
Os descendentes
Tão longe e tão perto
Cavalo de guerra

Não encontrei o pôster do filme "A invenção de Hugo Cabret", pelo menos até eu publicar esse post não havia nada no Tumblr do artista. Para ver outros trabalhos dele, acesse: http://derekeads.tumblr.com/

sábado, 18 de fevereiro de 2012

"Histórias Cruzadas" aborda os estereótipos do universo feminino e o preconceito racial

No filme “Histórias Cruzadas” (The Help) temos de um lado a retratação do universo das mulheres negras nos anos 60, no Mississipi, sul dos Estados Unidos. Uma época na qual o racismo imperava de forma cruel, incluindo a presença de um grupo de extermínio racial, a Ku Klux Klan. Essas mulheres negras eram conduzidas a função de empregadas domésticas por falta de oportunidades e faziam sacrifícios de todos os tipos para não deixarem que seus descendentes declinassem para o mesmo destino. Em tal condição, numa época em que o preconceito racial não era visto como crime, essas mulheres eram tratadas da forma menos digna possível, isso incluía a construção de banheiros fora da casa dos patrões com o argumento de que os brancos não podiam usar o mesmo vaso sanitário dos negros porque pegariam doenças.

Do outro lado da história, observamos o universo das mulheres brancas que eram destinadas a encontrar um marido, formar família muito cedo e engravidar rapidamente. Mas, por terem filhos jovens demais, acabavam passando a responsabilidade de cuidar das crianças para as negras que cuidavam da casa. Eram essas governantas que tentavam ensinar algum valor para essas pobres criaturas, praticamente abandonadas por suas mães, que ao delegarem suas tarefas, viviam apenas preocupadas em se empetecarem para fazer participação em eventos sociais da elite americana. Assim, essas mulheres adentravam em um universo no qual a futilidade, o histrionismo, a histeria, a falsidade e a beleza superficial predominavam. Eram moças que apenas mantinham as aparências para corresponderem a uma sociedade hipócrita e excludente. Ao retratar o universo das mulheres brancas de forma caricata e exagerada, o diretor Tayte Taylor criou o contraponto perfeito ao universo doloroso e difícil das mulheres negras.

“Histórias Cruzadas” é um filme que tem como mote o preconceito racial e a consequente violência advinda desse sentimento, no entanto, vai além disso ao abordar as nuances do universo feminino. O filme nos faz pensar sobre a condição a que muitas mulheres foram destinadas em nossa sociedade. Ao serem lançadas a posição de donas de casa com a função principal de cuidar dos filhos, atender ao marido e reunirem-se em chás e eventos beneficentes com as amigas, as mulheres tiveram por muito tempo a marca do esvaziamento em suas vidas. Se observarmos atentamente o mundo atual veremos resquícios fortes dessa condição ainda presentes. Mesmo depois da emancipação feminina, os estereótipos desse universo ainda prevalecem. É no elenco de atrizes que o filme encontra sua força e é incrível como todas estão muito bem em cada papel a que foram destinadas. Geralmente, filmes com muitas personagens tendem a ficar confusos ou alguns papéis se tornam irrelevantes, felizmente isso não ocorre em "Histórias Cruzadas".

Emma Stone não faz feio no papel de Skeeter, uma jovem a frente de seu tempo e indignada com tantos maus-tratos impostos aos negros. Jessica Chastain, indicada ao Oscar 2012 de atriz coadjuvante, interpreta uma dona de casa fútil que não consegue engravidar e acaba hostilizada pelas outras mulheres fúteis da cidade. Essa personagem seria a outra contraparte do destino a que Skeeter estaria condenada, caso não tivesse deixado a pequena cidade e ingressado numa universidade ainda na adolescência. Alisson Janney, rouba discretamente algumas cenas do filme, ela está ótima como a mãe de Skeeter que vive empurrando um namorado para a filha. Bryce Dallas Howard se encaixou muito bem no papel da mulher fútil-mor, ela seria aquilo que mais poderíamos aproximar de uma vilã clássica. Sua personagem é quase tão má quanto uma bruxa de contos de fadas, mas isso não atrapalha em nada a condução do enredo. Mas são as interpretações de Viola Davis como uma mulher marcada pela dor da perda do filho e Octavia Spencer como uma empregada mal-humorada, que o filme tem as cenas mais engraçadas e emocionantes. As interpretações delas suplantam todas as outras por melhores e mais divertidas que elas sejam. As duas foram nomeadas ao Oscar 2012, Viola na categoria de melhor atriz e Octavia em atriz coadjuvante. São duas atrizes negras da melhor qualidade e foram merecidamente indicadas.

Apesar de abordar questões difíceis, “Histórias Cruzadas” não se deixa levar pela secura de seu assunto. É um filme para rir, pensar, refletir e se emocionar. A produção não deixa de lado sua aura de entretenimento, tem lição de moral e sentimentalismos em excesso em algumas cenas, mas, mesmo assim, não deixa de ser um excelente trabalho. Afinal, não dá para ser indiferente as questões que o filme abarca. O longa-metragem, ainda que em breves linhas, também trata da força da escrita como forma de libertação: ao narrar os maus tratos e preconceitos sofridos pelas patroas, as empregadas ganham voz numa sociedade repressora apinhadas de seres humanos com um dos sentimentos mais terríveis e desprezíveis do mundo: o preconceito.

Indicações ao Oscar 2012:
Melhor Filme
Melhor Atriz: Viola Davis
Duas indicações para melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer e Jessica Chastain

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O estranho mundo do Oscar

A partir de hoje irei postar algumas linhas sobre o maior prêmio do cinema, o Oscar. Na verdade, pretendo lançar um olhar sobre algumas esquisitices, estranhezas e contradições existentes na festa do cinema americano e que ninguém, por mais que tente, consegue entender.

O Oscar surgiu como forma de incentivar a produção de novos filmes nos longínquos anos 20, o primeiro longa-metragem a ganhar uma estatueta dourada chamava-se "Asas" de 1929 (foto abaixo). Durante algum tempo, a premiação representou tudo o que o cinema norte-americano produzia de melhor. No entanto, nos últimos anos não é bem assim que as coisas têm transcorrido. Filmes de gosto duvidoso têm entrando na lista de indicados contrariando toda e qualquer expectativa.


Antigamente, e por muito tempo, eram cinco indicados à categoria principal, mas por circunstâncias muito estranhas, a Academia do cinema americano resolveu em 2011 aumentar para dez o número de selecionados. O argumento para essa modificação foi de que, assim, as chances de outros filmes serem indicados seriam maiores. Todo mundo sabe que uma indicaçãozinha qualquer ao prêmio serve como uma tremenda propaganda para aquele filme pequeno, independente, que seria apenas comentado por quem frequenta salas de cinema alternativo. Foi assim com o recente vencedor de 2010, "Guerra ao terror" (foto abaixo), que já se encontrava empoeirado nas prateleiras das locadoras e de repente, ao ser indicado, teve seu valor repensado e muita gente se deu conta de que o filme simplesmente existia e era bom. Nessa atitude de ampliação, vejo um viés muito mais forte de marketing do que de bondade.


Os critérios de seleção dos indicados à categoria "Best Movie" são contraditórios. Quantos grandes filmes não poderiam estar ilustrando a lista de indicações e por fim acabaram nem sequer sendo lembrados? (Falei disso no post anterior abordando o filme "A pele que habito"). Quantos filmes teriam tudo para ganhar, mas terminaram preteridos em função de outros com potencial muito menor para serem vencedores? De fato, balizar filmes numa relação de melhores é uma tarefa ingrata porque essas seleções jamais darão conta da complexidade do que é e está sendo feito.

Casos bem inusitados ocorreram recentemente. Em 2006, entre os cinco indicados, havia um filme favorito ao prêmio que se chamava "O segredo de Brokeback mountain" (foto abaixo) que todo mundo tinha certeza de que esse seria o vencedor daquela noite, no entanto, para supresa de todos, quem ganhou foi "Crash: No limite", o filme que para todos era o azarão dentre os outros indicados. Algumas pessoas mais afoitas, acusaram a Academia de homofóbica, já que o tema do filme abordava a relação proibida nos anos 60 entre dois caubóis interpretados pelo falecido Heath Ledger e por Jake Gyllenhall.


No ano passado, fato semelhante aconteceu quando o Oscar resolveu premiar "O discurso do rei" em vez de "A rede social" (foto abaixo). Não que o filme estrelado por Colin Firth fosse ruim, não. "O discurso do rei" é um excelente filme, porém, sua narrativa de superação já foi vista trilhões de vezes no cinema, enquanto que o moderno "A rede social" era o filme mais inovador naquela ocasião e falava de um tema muito mais consoante com os tempos atuais: a solidão de jovens que em tempos de tantas tecnologias vivem isolados e mal conseguem manter suas relações sociais, o que inclui namoro e amizades.


São nesses momentos que o Oscar decepciona. O prêmio de maior visibilidade do cinema deveria levar em conta muito mais a sua veia de eternizar grandes filmes e não apenas premiar para dizer nas entrelinhas "estou premiando esse filme porque esse filme tem qualidade". Tanto "O segredo de Brokeback mountain" quanto "A rede social" são filmes que por suas temáticas são inovadores e originais sem deixar de lado a necessária qualidade artística. Interessante notar que essas produções já se eternizaram mesmo sem a chancela do Oscar. Enquanto "Crash" e "O discurso do rei" têm estampa de filmes que com o tempo todo mundo esquece. O problema do Oscar é que ele se leva a sério demais. Permeia por todo o evento um medo de se reiventar, um conservadorismo exagerado, um quê de timidez de dar um passo a frente e ousar.

Agora, em 2012, foram indicados nove filmes. Ué, não eram dez? Sim, eram. Mas a Academia agora faz uma matemática super complicada em que os indicados tem que ter a mesma margem de porcentagem para figurarem na lista. Assim sendo, se uma película não alcançar a tal margem de porcentagem, num total de 6 mil votantes, ela fica de fora. Esse ano, apenas nove conseguiram alcançar a tal porcentagem entre os votantes."O artista" dispara na frente como favorito, mas disputa a atenção com o "A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese. Quem deve ganhar? O filme em preto e branco que faz o público olhar para um passado remoto quando os filmes ainda eram mudos? Ou o longa-metragem em 3D de cunho infanto-juvenil, o primeiro dirigido por um cineasta que ficou famoso por realizar filmes de gângsters? O conservadorismo ou a modernidade? Mas uma vez o Oscar se divide e provavelmente fará a escolha óbvia.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"A pele que habito" e a indiferença do Oscar 2012

Sabemos muito bem que a premiação de melhores do ano do Oscar foi criada para massagear os egos dos norte-americanos e filmes estrangeiros geralmente são apenas premiados por educação. Sendo assim, não ser indicado à grande festa hollywoodiana não se trata de demérito, pelo contrário, existem milhares de produções muito boas que nem sequer são lembradas pela Academia do cinema americano, passam totalmente despercebidas. Esse é o caso de “A pele que habito”, que foi lembrado em várias premiações importantes mundo afora, mas foi solenemente ignorado por aquele que se considera o prêmio máximo do cinema.

A produção espanhola foi uma das mais sensacionais que assisti em 2011. Pedro Almodóvar é um dos poucos cineastas de nacionalidade não americana que consegue criar expectativa e empatia em torno de cada novo projeto que realiza, mesmo que seu público alvo seja bem específico. No filme em questão, o diretor entrega um trabalho simplesmente perfeito que lida com temas fortes e ousados, tais como ética, identidade sexual, corpo, solidão, poder, obsessão e violência. Não dá para falar muito sobre o enredo, pois o perigo de estragar o prazer de assisti-lo é muito grande. O que posso dizer a respeito é que se trata de uma história extremamente envolvente do começo ao fim. O cineasta nos conduz de forma excepcional para dentro do universo bizarro proposto por ele. O roteiro, baseado num livro de Thierry Jonquet chamado "Tarantula", tem claras inspirações em clássicos como “Frankenstein” e “O médico e o monstro” e é eficientemente concatenado, criando situações que vão a cada minuto da projeção nos surpreendendo. O filme é um misto de suspense, drama, romance, ficção científica e terror psicológico que fica até difícil rotulá-lo em apenas um gênero.

Em linhas gerais, conta-se a história de Robert Ledgard, interpretado brilhantemente por Antonio Banderas, um médico cirurgião plástico obcecado pela criação de uma pele artificial a qual ele vem desenvolvendo com perfeição desde o acidente de automóvel que queimou todo o corpo de sua esposa, há alguns anos no passado. A façanha precisa ser realizada clandestinamente, uma vez que subverte a ética médica. Para se ter uma ideia a criação da tal pele une DNA humano com DNA de porcos. Deu para perceber o tom bizarro da ideia? De fato, há algumas mensagens subliminares fortíssimas nessa criação. Daí em diante, somos levados num vai e vem no tempo que vai explicando tudo aquilo que num primeiro momento não conseguimos entender. Direção, roteiro, fotografia, montagem e trilha-sonora são executados com precisão cirúrgica, sem querer fazer trocadilhos. A impressão que fica é que Robert Ledgard é uma espécie de alter-ego do próprio Almodóvar: dois homens inteligentes que não abrem mão de suas identidades e obssessões.

“A pele que habito” é um filme cheio de entrelinhas e cabe a cada espectador fazer a sua leitura. O próprio título permite mais de uma interpretação. Almodóvar como um dos cineastas mais criativos em atividade no mundo (limitá-lo à Espanha seria um pecado) tem uma ideia muito clara do que quer deixar como legado para a posteridade: filmes que rasguem o modelo, as formas, os padrões pré-estabelecidos, ele quer um cinema que nos faça refletir, pensar e olhar para o mundo com outros olhos que não sejam os da obviedade. A arte que vai além do entretenimento não teria essas funções?

Angustiante, perturbador, bizarro, sádico, tenso, sexual, grandioso e por isso tudo, genial. E o Oscar, que se julga como um termômetro do que existe de bom no mundo (não é à toa que tem uma categoria intitulada "filme estrangeiro"), foi indiferente a tudo isso.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"O Guarda-Costas" imortaliza-se com o falecimento de Whitney Houston

Quando o filme “O Guarda-Costas” foi lançado nos cinemas americanos em 25 de novembro de 1992 ninguém imaginava que fosse fazer tanto sucesso. Apesar da presença do ator Kevin Costner no elenco (ele estava no auge da fama), a atriz principal era a cantora Whitney Houston e ela nunca havia feito um longa-metragem como protagonista. Isso era um risco à epoca, afinal, filmes com cantoras investindo na arte da interpretação sempre foram vistos com maus olhos. As atuações de Madonna estão aí para provar. Mas a fórmula suspense light mais romance açucarado deu certo e o filme foi um dos mais vistos daquele ano. Arrecadou mais de 400 milhões de dólares mundialmente e teve uma das trilhas-sonoras mais vendidas de todos os tempos.

Quem foi adolescente nos remotos anos 90 certamente deve ter visto “O Guarda-Costas” ao menos uma vez numa sessão de filmes da televisão. Hoje, é claro, a maioria adulto desdenha um pouco ou muito do filme. Isso acontece porque o longa dirigido por Mick Jackson é altamente melodramático e a canção principal "I will always love you" cantada por Whitney Houston se tornou um verdadeiro chiclete que sonorizou toda e qualquer comemoração de dia dos namorados, o que a fez ganhar com o passar do tempo o rótulo de cafona. Assim também ocorreu com a famigerada canção “My heart will go on” da Celine Dion do filme “Titanic”. Lembra?

O enredo é simples: o protagonista Frank Farmer (Kevin Costner) é um ex-agente do serviço secreto americano que acaba contratado para ser o guarda-costas da famosa cantora Rachel Marron (Whitney Houston) que está sendo ameaçada por um possível maníaco. O roteiro cria alguns candidatos ao posto de vilão da história, incluindo um fã obcecado pela cantora e uma irmã invejosa, na intenção de manter o suspense até o derradeiro final quando, numa cerimônia de entrega do Oscar, Rachel sofre um atentado. Percebe-se que Whitney Houstou não precisou fazer muito esforço para interpretar uma cantora que de vez em quando é atriz.

A produção é extremamente pop, puro entretenimento para uma sessão da tarde, um produto do cinema hollywoodiano para alavancar a carreira de Kevin Costner e lançar Whitney Houston como atriz. Você poderá viver cem anos, goste ou não, esse filme será sempre lembrado, assim como sua canção, que chata ou não, entrou para a história. E foi por isso tudo que ele acabou se tornando um clássico do cinema pop. Afinal, para ser um clássico não precisa ser exatamente uma obra prima. O que observo aqui, não é se o filme é bom ou ruim e sim a força da narrativa para se manter na memória do público ano após ano e assim ultrapassar gerações. Julgando-o, posso dizer que é até bem feitinho e tem uma história bem amarrada, sem inovações, mas foi urdido com o intuito de agradar o grande público e isso inclui a presença de muitos clichês na trama.

Agora com a morte da cantora Whitney Houston anunciada no sábado (dia 11), “O Guarda-costas” entrou definitivamente para o hall das obras inesquecíveis da história do cinema americano. Por ter sido o único filme de grande repercussão da cantora (ela fez outros dois filmes como protagonista “Falando de amor” e “Um anjo em minha vida” entre outras pontas em filmes menores), por ter sido um cliclete grudento, por ter arrecadado muita grana, por ser entretenimento descarado, por tocar a música-tema até hoje nas rádios do mundo inteiro, por ter passado na televisão milhares e milhares de vezes, o filme acabou tornando-se imortal e o óbito da artista reforça ainda mais esse caráter perene da obra. A morte tem esse poder. Jaz o corpo, permanece a arte.


Abaixo, três videos retirados da trilha-sonora do filme. "I have nothing" e "Run to you" foram indicadas ao Oscar em 1993, mas perdeu para a canção da animação "Aladdin". "I will always love you" não foi indicada porque era uma regravação de uma música de Dolly Parton. O quarto video é da música "When you believe" que pertence a trilha-sonora da animação "O Príncipe do Egito" música que juntou as vozes de Whitney Houston e Mariah Carey e acabou levando o Oscar de melhor canção em 1999.








sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Macaulay Culkin, beleza eterna e uma mídia cruel

Todos os jornais, blogs, comunidades virtuais divulgaram com grande espanto uma fotografia do ator Macaulay Culkin, hoje aos 31 anos. As notícias concentravam-se apenas em um único detalhe: a decadência do ator ao longo dos anos. Comparações com a época de grande sucesso foram inevitáveis. Tenho que confessar: odeio notícias como essas.

De fato, o ator viveu uma fase de muito sucesso no passado ainda criança, período que incluiu sucessos como "Esqueceram de mim" e "Meu primeiro amor". Mas há anos ele está longe dos holofotes. Agora um sujeito qualquer de súbito encontra uma imagem recente dele vinte, trinta, sei lá quantos anos mais velho e todos ficam boquiabertos dizendo que o tempo foi cruel. Eu me pergunto: as pessoas não podem envelhecer, mudar, se transformar com o tempo ou até mesmo enfear? Isso acontece com todo mundo, tolo é aquele que acredita no contrário disso.

Mas é fácil explicar tal postura. Vivemos em um mundo que cultua a beleza a todo custo. O cinema de certa forma foi responsável por boa parte dessa cultura, uma vez que eternizou nomes como Marlon Brando e Marilyn Monroe representados desde que surgiram nas telas como ícones da mais pura beleza. Hoje ao lembrarmos de Marlon Brando por exemplo, não é a figura já envelhecida de filmes como “O Poderoso Chefão” que trazemos à tona e sim a sua imagem bela e viril estampada em fotografias em preto e branco. Desde então, entra ano e sai ano, o cinema americano vive elegendo seus novos ícones de beleza. Brad Pitt e Angelina Jolie talvez sejam os ícones de beleza mais fortes ainda vivos.

Sabemos que não é de hoje que a cultura do belo como algo a ser perseguido fortemente existe, mas em tempos de mundo globalizado e virtual incute-se nesse culto um lado bastante perverso que por sua vez o senso comum pode não perceber de imediato. A mídia em parte é responsável por isso ao jogar na nossa cara todos os dias imagens como essa do ator Macaulay Culkin com textos melindrosamente escritos para alimentar o desejo ávido do ser humano por tragédias. Já parou para observar o destaque que os noticiários dão para catástrofes, mortes, acidentes e toda uma gama de mazelas? A mídia não faz isso à toa, ela o faz porque nós gostamos de ver e ouvir isso e foi assim desde tempos remotos, que o digam as tragédias gregas de Homero, por exemplo. Só que hoje, o grande problema é que tudo está banalizado.

Na minha opinião, o homem busca a tal “beleza eterna” porque isso está ligado diretamente à ideia da imortalidade. Queremos ser eternos, queremos ser jovens, queremos ser ilimitados, queremos ser invencíveis. A mídia, como reflexo da sociedade que representa, sabe muito bem disso e trabalha com esse escopo constantemente. Por que razão você acha que todo ano são publicadas listas do tipo os mais bonitos, os mais sexies, os mais desejados? Simplesmente porque o bonito, o sexy, o desejado de hoje será o decadente de amanhã e isso produzirá notícias para jornais e acessos para sites. Estranho mundo esse em que vivemos, não?

A beleza e a juventude são elementos interessantes da vida humana, entretanto, não deveriam ser massificados como vem acontecendo contemporaneamente. Termino esse post com uma frase de Stendhal que me veio à cabeça enquanto eu escrevia essas parcas linhas, diz assim: “O belo não é senão a promessa da felicidade”. É para refletir!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

J. Edgar: um filme de bons momentos e alguns equívocos

Para adentrar ao universo do novo filme de Clint Eastwood é necessário um pouco de conhecimento sobre a história norte-americana. Você sabe quem foi John Dillinger ou Baby Face? Sabe quem foi Franklin Roosevelt? Ah, esse você já deve ter ouvido falar em alguma aula de história, não? Sabe o que foi o período da Grande Depressão? Pois é, esses detalhes podem em muitos momentos ajudar na compreensão de um filme que narra a história de uma das figuras mais controversas dos E.U.A, John Edgar Hoover, o diretor da famosa polícia americana, o FBI.

O filme conta a história do personagem que dá título ao filme que já na velhice resolveu escrever sua biografia. Ao mesmo tempo em que narra os acontecimentos de sua vida para um jornalista, cenas dessa rememoração são traduzidas em imagens na tela do cinema. No entanto, no que devia ser interessante (a parte histórica), "J.Edgar" revela-se monótono. A história encontra seus melhores momentos quando retrata fatos da vida pessoal do homem que queria inovar no combate ao crime. Ele foi o responsável pelo reconhecimento das pessoas por digitais, uma bizarrice à epoca. A relação obsessiva com a mãe, que o influenciou por toda a vida adulta e a sua sexualidade enrustida, que só encontrou expressão no companheiro de trabalho, Clyde Tolson, rendem as melhores cenas. Na retratação dessas passagens, há uma grande sensibilidade na condução dos personagens, habilidade que o diretor já exercitou anteriormente. Mas agora, nem de longe lembram os ótimos "Gran Torino" e "A troca". "J.Edgar" é um filme sensível, porém, muito arrastado e que dispersa a atenção do público num vai e vem no tempo que só prejudicou a narrativa. Leonardo Di Caprio, como sempre, entrega uma atuação primorosa, mas a tão alardeada maquiagem do filme realmente não ajudou muito. Principalmente a que compôs a caracterização do ator Armie Hammer, que interpreta o amante de Edgar. É de um tom caricatural terrível.

Um dos momentos bacanas do filme é quando o companheiro de Edgar já velho e à beira da morte revela que muito do que o diretor do FBI contou sobre a sua vida era invenção, mentiras. J.Edgar aumentou, assumiu a autoria de coisas que não fez, criou momentos históricos para si mesmo, por vaidade e para tornar sua vida biografada mais interessante. Se formos pensar, toda biografia não é um pouco ou muito disso? O que se conta não é mas o que foi vivido, as palavras são pensadas para ganhar outros contornos, outras interpretações e a memória quando ativada exclui algumas coisas do passado e realça outras, assim o fez John Edgar Hoover na sua missão de eternizar-se na história americana.

Outro momento de destaque se dá quando a mãe de J.Edgar falece e ele, atormentado, se traveste com as roupas e joias da mãe morta. Nessa cena, a presença maternal forte explode por completo em sentimentos reprimidos, dúbios e dolorosos.

Entre bons momentos e alguns equívocos, "J.Edgar" também pode ser interpretado como uma história de lealdade. Uma história que mostra a importância de algumas pessoas ao longo da vida. Assim foi com o seu amante e sua secretária Helen Gandy, papel de Naomi Watts quase imperceptível no filme, mas de grande importância. Entretanto, o maior problema do filme, na minha opinião, é que ele foi feito para um público específico: o público norte-americano. E se não teve a acolhida que merecia pelo país alvo, que dirá outros países que desconhecem a figura de Hoover.

Só para esclarecer, para quem não sabe, John Dillinger foi um dos maiores assaltantes de Bancos nos anos 30 e Baby Face fez parte de uma das gangues formadas por Dillinger. Já Franklin Roosevelt foi o presidente dos E.U.A nos anos 30 e 40. A Grande Depressão, em linhas superficiais, foi a pior crise econômica vivida pelos E.U.A nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. Não custa informar.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fotógrafo registra o mundo em bolhas de sabão

De vez em quando, abrirei uma brecha aqui no blog e postarei outros assuntos relacionados às artes em geral, mas não fugirá muito da minha proposta que é ampliar o olhar sobre o mundo. Foi exatamente isso que fez o fotógrafo americano Tom Storm. Eu adoro esse ensaio intitulado "World in a bubble". Aqui, o mundo passa a ser visto no reflexo de um bolha de sabão. O fotógrafo registra lugares do mundo inteiro por meio dessa técnica e diz que nenhuma dessas imagens são manipuladas em computador, ele apenas se utiliza de uma câmera bastante potente. Além de muito bonitas, as fotografias revelam uma grande sensibilidade, que nos faz refletir sobre a fragilidade do mundo contemporâneo quando visto por outros ângulos. Nas palavras do artista: "Podemos encontrar pequenos mundos dentro desses globos que rapidamente vão embora para nunca mais serem vistos". Belo e efêmero. Fantástico, não? Confira o trabalho.












domingo, 5 de fevereiro de 2012

A abertura de "Os homens que não amavam as mulheres" é um dos destaques do filme



Muitos cineastas se preocupam em inovar na abertura de seus filmes para que sejamos fisgados pela história desde o começo. Outros preferem manter-se fiéis ao fundo negro e simples, enquanto os créditos com os nomes do elenco e da produção desfilam diante de nossos olhos. No primeiro caso, temos David Fincher e no segundo Woody Allen, só para ficar com um exemplo.

O diretor do novo “Os homens que não amavam as mulheres” criou um videoclipe bastante interessante para a abertura de seu filme. Assim, logo de cara, somos brindados com um vídeo obscuro e estranho que antecipa os temas que veremos no decorrer da projeção. Formas humanas são envolvidas por uma tinta negra que nos remete ao petróleo e essa mesma tinta vai percorrendo todo o espaço da cena, incluindo as teclas de um computador. São cenas macabras, estranhas, violentas que nos preparam de alguma forma para o que vem pela frente. (E olhe que não é pouca coisa). No meio disso tudo, um fósforo ateia fogo em tudo criando imagens que entram em plena combustão. Conectores de computadores, pessoas amordaçadas, um pássaro em chamas, flores negras com o miolo composto de pregos e insetos desfilam sobre a tela num verdadeiro espetáculo macabro. Tudo ao som de “Immigrant Song” regravação de uma música do Led Zeppelin, agora em versão de Karen O (vocalista do grupo Yeah, Yeah, Yeahs), Trent Reznor e Atticus Ross, esses dois últimos responsáveis pela trilha-sonora do filme.

Tanto o fogo quanto a tinta negra são signos importantíssimos para entendermos o tom pesado concedido ao filme. Lisbeth, a personagem principal, carrega uma bagagem de vida bastante dramática e difícil. É constante em seus olhos as sensações de medo, raiva, vingança e dor. E não podemos esquecer que ela carrega no corpo um dragão tatuado nas costas. Tem símbolo mais forte para representar a cicatriz (aqui no sentindo metafórico das marcas que a vida nos causa) e a dor do que uma tatuagem? A tinta negra representa o seu lado mais sombrio, a personagem é uma hacker que vive escondida por trás de um computador investigando a vida alheia como se fosse uma sombra e acaba por transformar a sua dor em combustível para solucionar a dor do outro. As chamas representam a raiva, o desejo de vingança, a revolta com o mundo. Uma das melhores partes do videoclipe é uma coreografia de mãos negras que cobrem um rosto. Seria uma provocação com o público que em breve assistirá cenas impactantes? A cena do estupro de Lisbeth é de causar mal-estar em qualquer espectador e dividiu a opinião do público.

Para quem ainda não sabe, David Fincher antes de se tornar um cineasta conceituado no cinema americano realizava videoclipes para grandes nomes da música. Nomes como Madonna, Michael Jackson, Paula Abdu, George Michael, Rolling Stones e Aerosmith já recorreram aos serviços do diretor. Uma de suas marcas nesses vídeos musicais era a qualidade visual de sua realização. A cantora Madonna foi considerada revolucionária da estética dos videoclipes mas não fez tudo sozinha, David Fincher estava nos bastidores contribuindo para isso. Essa herança visual do início de sua carreira foi muito bem aproveitada quando resolveu ingressar na carreira de diretor de longas-metragens. David Fincher não entrega um filme sequer que não dê atenção máxima à estética, sempre com o comprometimento de ajudar a contar uma história e não só como subterfúgio para esconder superficialidades. Assim fomos apresentados a várias obras de impacto visual bastante interessantes como “Seven”, “O curioso caso de Benjamin Button”, “O quarto do pânico”, entre outros.

Veja também a abertura de "Seven" filme que projetou David Fincher à fama. O clipe é tão macabro e sádico quanto o de seu novo filme.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"Os homens que não amavam as mulheres" é um filme de uma única personagem que atende pelo nome de Lisbeth

Adoro ver uma interpretação em que o ator/atriz se joga no papel de corpo e alma. Sabe aquelas interpretações em que o artista deixa de lado toda vaidade e beleza para encarnar os mais diversos tipos humanos? Aqueles atores que não têm pudores em cenas mais fortes, como as que contém sexo e violência, ou até mesmo aquelas cenas que exijam desse mesmo ator capacidade extremada de transformação que o leve ao limite? Pois é, sabe atuação memorável? Isso é o que se encontra no filme "Millenium - Os homens que não amavam as mulheres".

Rooney Mara (Já ouviu falar dela?) é o motivo pelo qual vale cada centavo do ingresso do filme. Lisbeth, a personagem que ela encarna, é sofrida, vítima de estupros, sozinha no mundo, acusada de vários crimes, com várias passagens por clínicas de reabilitação, enigmática, soturna, lacônica, irascível, frágil... e além de tudo isso, muito inteligente. Essa é uma daquelas personagens que exige uma grande atriz, com carga dramática fortíssima e convicente, para dar conta das nuances do papel. A escolha de Rooney foi das mais felizes. É ela quem carrega todo o filme. É ela quem dá emoção ao filme. É ela quem faz as cenas mais fortes e impactantes (a cena do estupro certamente ficará na mente de muita gente por muito tempo). É ela quem enche a tela. Enfim, trata-se de uma heroína trágica. Não é em vão que o título americano do filme "The girl with the dragon tattoo" foca claramente na personagem feminina. O título brasileiro é uma tradução mais próxima do original sueco.

Posso estar exagerando, mas na minha opinião, não consegui ao longo de quase 3 horas de filme enxergar nada melhor. Não que o filme seja ruim, não é isso. A fotografia, a trilha-sonora, as locações na fria Suécia e o clipe de abertura são excelentes e dão o tom tenso necessário ao filme. "Os homens que não amavam as mulheres" tem a mão de David Fincher na direção e isso já é garantia de algo no mínimo bom. O cineasta ficou famoso por filmes com temática de serials killers, vide "Seven" e "Zodíaco". Nesse filme, porém, ele faz um produto com sua marca voltado, no entanto, para o entretenimento hollywoodiano adulto e para gerar lucro. Isso fica ainda mais evidente ao sabermos que é uma adaptação baseada em uma trilogia de livros suecos que virou sucesso nas livrarias mundiais, fórmula que tem gerado grana alta para os estúdios de cinema.

A história gira em torno de uma investigação de um crime ocorrido há 40 anos dentro de uma abastada família sueca. O jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) tem sua vida profissional abalada após uma reportagem na qual o acusaram de difamação. Sua carreira sofre um tremendo golpe que afeta até a própria revista onde trabalha, a famosa "Millenium" que dá título a série de livros. A chance de se reerguer vem do milionário Henrik Vanger (Christopher Plummer) que o contrata para investigar o desaparecimento de sua sobrinha, um mistério que ninguém nunca resolveu. O filme vai desenvolvendo a história da hacker Lisbeth e do jornalista Blomkvist de forma independente, até o momento do encontro. Nesse ponto da projeção, o enredo ganha ainda mais intensidade. Não é um encontro comum. Trata-se da reunião de dois seres humanos desconcertados com o mundo em que vivem e que unem forças para resolver um quebra-cabeça familiar. Esse é o universo retratado pelo filme: crimes sem solução, familiares que não se falam há anos, pessoas difamadas e violentadas. Um mundo sem conexão, sem laços fortes, sem sentimentos. Não é à toa que a relação de Lisbeth com Blomkvist acaba tornando-se um oásis em meio à tanta frieza.

"Os homens que não amavam as mulheres" é uma produção de pontos altos e baixos, pois se trata, digamos assim, de um trabalho mais burocrático de David Fincher. Por ter a sua "marca registrada", o filme consegue prender a atenção com uma atmosfera de suspense que o cineasta tão bem sabe construir. Porém, a narrativa tem momentos bastante mirabolantes que torna o filme, em muitos aspectos, um pouco inverossímil. O final que se explica demais, na minha opinião, é um ponto falho. Há também alguns furos no roteiro fáceis de detectar num olhar mais atento, mas isso já não é culpa do cineasta e sim da obra literária na qual o filme se inspirou. Mas no final, fica a sensação de ter visto um bom filme, competente, visualmente interessante e acima da média em se tratando de um entretenimento voltado para adultos, mas não é nenhuma novidade se você já viu outros filmes de Fincher.

De fato, o que marca é a atuação de Rooney Mara, uma atriz de 26 anos que ganhou espaço no cinema mais precisamente a partir de sua atuação em "A Rede Social" e que até então não tinha feito nada de significativo. E como uma grande interpretação quase nunca passa despercebida. Vários prêmios têm lembrado o nome da atriz em suas seleções, inclusive o prêmio máximo do cinema, o Oscar no qual ela concorre ao prêmio de melhor atriz. Sua atuação como Lisbeth é tão brilhante que atores como Daniel Craig, Christopher Plummer e Stellan Skarsgard ficaram parecendo coadjuvantes de luxo. Enfim, o filme é todo dela.