terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Hugo Cabret, George Méliès e Smashing Pumpkins

Um dos filmes mais comentados da atualidade é "A invenção de Hugo Cabret". Depois de sair, na noite do dia 26 de fevereiro, com cinco oscars em categorias técnicas, a produção do cineasta Martin Scorsese endossou sua fama de melhor filme em 3D realizado até agora. Se "Avatar" de James Cameron foi o filme que praticamente fez do 3D uma tendência no cinema, "Hugo Cabret" abriu uma brecha para que longas-metragens mais "sérios" também se utilizem da mesma tecnologia. A repercussão de "Hugo Cabret" se explica em parte por ser um retorno às técnicas cinematográficas de George Méliès, que praticamente instituiu o cinema da forma como o vemos hoje. Vamos ao cinema constantemente e, muitas vezes, não nos damos conta de que alguém em algum tempo remoto parou, pensou, imaginou, refletiu e criou tudo aquilo que hoje torna nossas vidas mais divertidas e emocionantes.

Para quem se interessa por detalhes da arte cinematográfica tanto quanto eu, entender as criações de Méliès é adentrar num mundo cheio de pequenas, mas fantásticas revelações. Afinal, é por meio da forma de fazer filmes que acabamos imergindo para mundos tão diversos que, se não fosse pela arte cinematográfica, talvez ficássemos sem essa maravilhosa capacidade de transportamento. George Méliès, para quem não o conhece, foi o cineasta precursor do incipiente cinema do início do século XX por "Viagem à lua" (Le Voyage dans la lune) de 1902. Antes desse filme, os irmãos Lumière, considerados os fundadores do cinema (junto à Méliès), filmavam coisas simples como cenas do cotidiano, pessoas caminhando pelas ruas e a famosa cena da locomotiva numa ferrovia, considerada por muitos uma das primeiras imagens de cinema. Quando George Mélies surgiu com "Viagem à lua" técnicas de montagem, sobreposição de cenas e efeitos visuais passaram a fazer parte da hipnótica arte aqui comentada.

Mélies era mágico-ilusionista e soube empregar muito bem seus truques na sétima arte. Seus filmes usaram a montagem de forma excepcional para a época e ele foi o primeiro a criar projeções com narrativas. Assim, empregou técnicas de filmes de ficção e animação muito antes de Hollywood tornar-se a fábrica de ilusões e sonhos que é hoje. Consta na história que Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica e do gramofone, se apropriou descaradamente da arte de Méliès e passou a exibir seus filmes nos EUA como se fosse o responsável por tudo. Isso acabou lhe dando fama no lugar do cineasta francês, que morreu na pobreza e, apesar da produtividade (mais de 500 filmes feitos, a maioria perdido no tempo), ele só teve o reconhecimento após a sua morte.

"Viagem à lua" teve como base de sua narrativa dois livros: "Da terra à lua" de Julio Verne e "Os primeiros homens na lua" de H.G. Wells. Foi o primeiro filme da história com mais de 10 minutos de projeção e foi filmado inteiramente com câmeras à manivela muito comum na virada do século XIX para o XX. Por ter seus direitos autorais expirados, o filme encontra-se em domínio público.

Vale recordar também que o videoclipe da música "Tonight tonight" dos Smashing Pumpkins de 1995 foi inspirado na obra de George Méliès, assim como o filme de Scorsese. Os diretores do video Jonathan Dayton e Valerie Faris filmaram tudo com câmera à manivela, criaram cenários teatrais e utilizaram-se de efeitos visuais da época. Conclusão: é um dos videoclipes mais criativos da história da música, o que resultou em muitos prêmios mundo afora, incluindo um Grammy.

Num mundo no qual as pessoas têm memória extremamente fraca e descartável e o interesse por cultura é bastante irregular, homenagens como essas, trazidas para o mundo pop, são mais que um exercício de cinema, são também verdadeiras aulas de história.

Abaixo, o videoclipe do Smashing Pumpkins e o filme de George Méliès supracitados.



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