quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

J. Edgar: um filme de bons momentos e alguns equívocos

Para adentrar ao universo do novo filme de Clint Eastwood é necessário um pouco de conhecimento sobre a história norte-americana. Você sabe quem foi John Dillinger ou Baby Face? Sabe quem foi Franklin Roosevelt? Ah, esse você já deve ter ouvido falar em alguma aula de história, não? Sabe o que foi o período da Grande Depressão? Pois é, esses detalhes podem em muitos momentos ajudar na compreensão de um filme que narra a história de uma das figuras mais controversas dos E.U.A, John Edgar Hoover, o diretor da famosa polícia americana, o FBI.

O filme conta a história do personagem que dá título ao filme que já na velhice resolveu escrever sua biografia. Ao mesmo tempo em que narra os acontecimentos de sua vida para um jornalista, cenas dessa rememoração são traduzidas em imagens na tela do cinema. No entanto, no que devia ser interessante (a parte histórica), "J.Edgar" revela-se monótono. A história encontra seus melhores momentos quando retrata fatos da vida pessoal do homem que queria inovar no combate ao crime. Ele foi o responsável pelo reconhecimento das pessoas por digitais, uma bizarrice à epoca. A relação obsessiva com a mãe, que o influenciou por toda a vida adulta e a sua sexualidade enrustida, que só encontrou expressão no companheiro de trabalho, Clyde Tolson, rendem as melhores cenas. Na retratação dessas passagens, há uma grande sensibilidade na condução dos personagens, habilidade que o diretor já exercitou anteriormente. Mas agora, nem de longe lembram os ótimos "Gran Torino" e "A troca". "J.Edgar" é um filme sensível, porém, muito arrastado e que dispersa a atenção do público num vai e vem no tempo que só prejudicou a narrativa. Leonardo Di Caprio, como sempre, entrega uma atuação primorosa, mas a tão alardeada maquiagem do filme realmente não ajudou muito. Principalmente a que compôs a caracterização do ator Armie Hammer, que interpreta o amante de Edgar. É de um tom caricatural terrível.

Um dos momentos bacanas do filme é quando o companheiro de Edgar já velho e à beira da morte revela que muito do que o diretor do FBI contou sobre a sua vida era invenção, mentiras. J.Edgar aumentou, assumiu a autoria de coisas que não fez, criou momentos históricos para si mesmo, por vaidade e para tornar sua vida biografada mais interessante. Se formos pensar, toda biografia não é um pouco ou muito disso? O que se conta não é mas o que foi vivido, as palavras são pensadas para ganhar outros contornos, outras interpretações e a memória quando ativada exclui algumas coisas do passado e realça outras, assim o fez John Edgar Hoover na sua missão de eternizar-se na história americana.

Outro momento de destaque se dá quando a mãe de J.Edgar falece e ele, atormentado, se traveste com as roupas e joias da mãe morta. Nessa cena, a presença maternal forte explode por completo em sentimentos reprimidos, dúbios e dolorosos.

Entre bons momentos e alguns equívocos, "J.Edgar" também pode ser interpretado como uma história de lealdade. Uma história que mostra a importância de algumas pessoas ao longo da vida. Assim foi com o seu amante e sua secretária Helen Gandy, papel de Naomi Watts quase imperceptível no filme, mas de grande importância. Entretanto, o maior problema do filme, na minha opinião, é que ele foi feito para um público específico: o público norte-americano. E se não teve a acolhida que merecia pelo país alvo, que dirá outros países que desconhecem a figura de Hoover.

Só para esclarecer, para quem não sabe, John Dillinger foi um dos maiores assaltantes de Bancos nos anos 30 e Baby Face fez parte de uma das gangues formadas por Dillinger. Já Franklin Roosevelt foi o presidente dos E.U.A nos anos 30 e 40. A Grande Depressão, em linhas superficiais, foi a pior crise econômica vivida pelos E.U.A nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. Não custa informar.

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