sábado, 21 de fevereiro de 2015

Os oito filmes indicados ao Oscar 2015

Amanhã é dia do Oscar e eu, como bom cinéfilo inveterado, fiz a lição de casa. Assisti todos os longas-metragens indicados para melhor filme. A ideia era resenhá-los aqui neste blog, mas como algumas histórias não me provocaram a ponto de merecerem um texto, desisti da empreitada. Abaixo, EM ORDEM DE PREFERÊNCIA, listo as produções com um breve comentário. 

1-     O Grande Hotel Budapeste: O filme do diretor Wes Anderson não é o favorito ao prêmio de melhor filme, mas deve sair com muitas estatuetas em categorias técnicas. Visualmente inteligente, com belo e detalhista trabalho de fotografia, direção de arte, figurinos e maquiagem, o longa-metragem tem uma deliciosa verve que nos remete aos filmes de Charles Chaplin; uma referência evidente nessa obra. Anderson é sempre genial ao misturar belos cenários, fotografia de cores vibrantes e uma atmosfera lúdica que faz com que seus filmes se tornem grandes obras de arte. A narrativa, dividida em três momentos, tem roteiro original desenvolvido a partir de textos do escritor vienense Stefan Zweig. Premiar "O Grande Hotel Budapeste" significaria reconhecer a arte de um cineasta de estilo  inconfundível. É o meu favorito.


2-     Whiplash – Em busca da perfeição: Furioso, vibrante, dinâmico e catártico, o filme do jovem diretor Damien Chazelle traz à tona a discussão dos limites de um mestre diante de seus pupilos. Como incentivar grandes talentos? Eis a questão. Em busca de um gênio, o rígido maestro Terrence Fletcher - interpretação que certamente concederá o Oscar de melhor ator coadjuvante para J.K. Simmons - encontra no jovem Andrew Neiman um excepcional baterista. Assim, o chama para compor sua famosa banda de jazz. A relação entre os dois é explosiva e o filme nos brinda com ótimas atuações, momentos intensos e uma vitalidade que está em falta nos dias de hoje, tanto na arte quanto na juventude. Em tempos de apatia, nada como um filme que sacode plateias.


3-     Boyhood - Da infância à juventude: Este é o favorito ao Oscar de melhor filme. Mas se ganhar, o que estará sendo premiado nada mais será do que a técnica. O diretor Richard Linklater conseguiu realizar uma obra curiosa sobre o tempo. Narrativamente, não é espetacular. Mas conseguiu um resultado plausível graças a dedicação de seus atores que se lançaram em filmagens ao longo dos últimos 12 anos e a uma montagem eficiente que garantiu a coesão do trabalho. É um daqueles casos em que a vida real se confunde com a arte. Acho um bom filme, mas muito superestimado.


4-     Birdman ou ( A inesperada virtude da ignorância):  Dirigido de forma exemplar pelo mexicano Alejandro González Iñarritú, o longa-metragem tem em seu falso plano-sequência e na atuação soberba de Michael Keaton a sua força. É um filme que critica com humor o sistema de produção hollywoodiano. Seu maior trunfo, no entanto, é o protagonista Riggan Thomson, um ator decadente em busca do reconhecimento nos palcos da Broadway. Qualquer semelhança com a carreira do próprio Keaton não é mera coincidência. Apesar dos elogios que vem recebendo, na minha opinião, o final careceu de melhor desfecho.


5-     A teoria de tudo: A cinebiografia do físico Stephen Hawking, muito mais que abordar a sua genialidade e inteligência, tem seu verdadeiro cerne na relação que o físico teve com a esposa Jane. Antes de mais nada, é bom saber que o longa-metragem do britânico James Marsh é uma história que fala da força inexplicável do amor. É romântico, emocional e sentimental, mas tem seu valor. A performance brilhante do ator britânico Eddie Redmayne é perfeita e em momento algum resvala para a caricatura. A atriz Felicity Jones, que interpreta a esposa dedicada de Hawking, também não deixa a desejar.



6-     Selma: O filme faz um recorte da luta de Martin Luther king pelos direitos civis dos negros norte-americanos na cidade de Selma, no Alabama. Durante o governo do presidente Johnson, que assumiu o posto após o assassinato de John Kennedy, a cidade sulista era uma das mais racistas e resistentes a conceder o direito de voto aos negros. Seja para lembrar do quanto o ser humano é capaz de negar a outro ser humano direitos básicos de uma sociedade, seja para rememorar a história do homem que muito fez pela justiça e humanidade daqueles que eram desprezados por aqueles que deveriam governar para todos e não apenas para um grupo específico, esse é um pequeno grande filme que merece ser visto.


7-     Sniper Americano: Clint Eastwood é um dos cineastas mais importantes do atual cinema americano e um dos mais prolíficos. Eastwood domina as técnicas do cinema como ninguém e conduz qualquer história com muita competência. "Sniper Americano" é a prova desse talento. No entanto, a produção é de um maniqueísmo assustador. A ideia contida no roteiro é a de que todo iraquiano é um terrorista. O tom patriota também não ajuda muito e o filme ainda foi acusado de humanizar o atirador americano Chris Kyle, um homem frio e calculista que ceifou, a sangue frio, a vida de cerca de 160 pessoas. Não precisa ser nenhum gênio para perceber que o verdadeiro terrorista da história é o próprio Kyle. Porém, isso não foi problema para o público norte-americano que abraçou o filme transformando-o num grande sucesso de bilheteria. Como escrito em artigo na revista Carta Capital: é a história de um herói ou a glorificação da violência americana no Iraque?


8-     O Jogo da Imitação: O filme é cheio de boas intenções, mas se transformou num grande equívoco cinematográfico. A história de Alan Turing que inventou aquilo que foi considerado o primeiro computador, tenta se desenvolver em duas partes distintas que se conectariam em algum momento da projeção. Ao mesmo tempo em que o matemático tenta desvendar códigos secretos nazistas para tentar dar fim a II Guerra Mundial, Turing precisa esconder sua homossexualidade, comportamento condenado à época e que acarretaria sua prisão se descoberto. O filme tenta intercalar essas duas camadas: os segredos que precisam ser revelados e os segredos que precisam ficar escondidos. O resultado, entretanto, é insatisfatório. As atuações são descabidas resvalando para um tom piadista que enfraquece a tensão vivida pelos personagens. Apenas em uma cena ou outra conseguimos vislumbrar traços de verdadeira intensidade e entrega, e todos estão nas mãos do ator Benedict Cumberbatch que protagoniza a obra. Dos oito, é o mais fraco.


4 comentários:

  1. Muito boa sua análise sobre os filmes desse ano, estava mesmo querendo ler algo assim, completo, a respeito deles.
    Só pude assistir dois destes -O Grande Hotel Budapeste e a Teoria de Tudo, muito bons todos os dois, grandes atores, cenários e histórias.
    Gostaria imensamente de ver Birdman e estou torcendo para ele, embora não tenha ainda assistido ao filme, mas vi o ator Michael Keaton noutro dia no programa da Ellen de Generis e percebi que este foi o papel de sua vida, ele está muito confiante e realizado, fora isso, gosto do gênero reflexivo e debochado de Hollyood sobre si mesma.
    Vamos aguardar para ver o desfecho de hoje à noite, mas tenho minhas dúvidas com relação à Academia, que parece-me gostar muito de filmes ufanistas e o tal Sniper Americano é bem ao gosto de Hollyood.
    um abraço carioca


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    1. Beth, obrigado pelas palavras. Ainda bem que Sniper Americano não ganhou nada, né?...rs...Grande abraço e obrigado por visitar o blog.

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    2. Ops, Sniper ganhou melhor edição de som, mas é um prêmio menor.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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