Amanhã é dia do Oscar e eu, como bom cinéfilo inveterado, fiz a lição de casa. Assisti todos os longas-metragens indicados para melhor
filme. A ideia era resenhá-los aqui neste blog, mas como algumas histórias não me
provocaram a ponto de merecerem um texto, desisti da empreitada. Abaixo, EM ORDEM DE PREFERÊNCIA, listo as produções com um breve comentário.
1- O Grande Hotel Budapeste: O filme do diretor Wes
Anderson não é o favorito ao prêmio de melhor filme, mas deve sair com muitas
estatuetas em categorias técnicas. Visualmente
inteligente, com belo e detalhista trabalho de fotografia, direção de arte, figurinos e maquiagem, o longa-metragem tem uma deliciosa verve que nos remete aos filmes de Charles Chaplin; uma
referência evidente nessa obra. Anderson é sempre genial ao misturar belos cenários, fotografia de cores vibrantes e uma atmosfera lúdica
que faz com que seus filmes se tornem grandes obras de arte. A narrativa, dividida em três
momentos, tem roteiro original desenvolvido a partir de textos do escritor
vienense Stefan Zweig. Premiar "O Grande Hotel Budapeste" significaria reconhecer a arte de um cineasta de estilo inconfundível. É o meu favorito.
2- Whiplash – Em busca da perfeição: Furioso, vibrante,
dinâmico e catártico, o filme do jovem diretor Damien Chazelle traz
à tona a discussão dos limites de um mestre diante de seus pupilos. Como incentivar grandes talentos? Eis a questão. Em busca
de um gênio, o rígido maestro Terrence Fletcher - interpretação que certamente concederá o Oscar de melhor ator coadjuvante para J.K. Simmons - encontra no jovem Andrew Neiman
um excepcional baterista. Assim, o chama para compor sua famosa
banda de jazz. A relação entre os dois é explosiva e o filme nos brinda com ótimas
atuações, momentos intensos e uma vitalidade que está em falta nos dias de hoje,
tanto na arte quanto na juventude. Em tempos de apatia, nada como um filme que sacode
plateias.
3- Boyhood - Da infância à juventude: Este é o favorito ao Oscar de melhor filme.
Mas se ganhar, o que estará sendo premiado nada mais será do que a técnica. O
diretor Richard Linklater conseguiu realizar uma obra curiosa sobre o tempo. Narrativamente, não é espetacular. Mas conseguiu um resultado plausível
graças a dedicação de seus atores que se lançaram em filmagens ao longo dos últimos 12 anos e a uma montagem eficiente que garantiu a coesão do trabalho. É um daqueles casos em que a vida real se confunde
com a arte. Acho um bom filme, mas muito superestimado.
4- Birdman ou ( A inesperada virtude da ignorância): Dirigido de forma exemplar pelo mexicano
Alejandro González Iñarritú, o longa-metragem tem em seu falso plano-sequência
e na atuação soberba de Michael Keaton a sua força. É um filme que critica com humor o sistema de produção hollywoodiano. Seu maior trunfo, no entanto, é o
protagonista Riggan Thomson, um ator decadente em busca do reconhecimento nos
palcos da Broadway. Qualquer semelhança com a carreira do próprio Keaton não é
mera coincidência. Apesar dos elogios que vem recebendo, na minha opinião, o final careceu de melhor
desfecho.
5- A teoria de tudo: A cinebiografia do físico Stephen
Hawking, muito mais que abordar a sua genialidade e inteligência, tem seu
verdadeiro cerne na relação que o físico teve com a esposa Jane. Antes de mais nada, é bom
saber que o longa-metragem do britânico James Marsh é uma história que fala da
força inexplicável do amor. É romântico, emocional e sentimental, mas tem seu valor. A performance
brilhante do ator britânico Eddie Redmayne é perfeita e em momento algum
resvala para a caricatura. A atriz Felicity Jones, que interpreta a esposa dedicada de Hawking, também não deixa a desejar.
6- Selma: O filme faz um recorte da luta de Martin
Luther king pelos direitos civis dos negros norte-americanos na cidade de
Selma, no Alabama. Durante o governo do presidente Johnson, que assumiu o posto
após o assassinato de John Kennedy, a cidade sulista era uma das mais racistas e
resistentes a conceder o direito de voto aos negros. Seja para lembrar do quanto
o ser humano é capaz de negar a outro ser humano direitos básicos de uma
sociedade, seja para rememorar a história do homem que muito fez pela justiça e
humanidade daqueles que eram desprezados por aqueles que deveriam governar para
todos e não apenas para um grupo específico, esse é um pequeno grande
filme que merece ser visto.
7- Sniper Americano: Clint Eastwood é um dos cineastas
mais importantes do atual cinema americano e um dos mais prolíficos. Eastwood
domina as técnicas do cinema como ninguém e conduz qualquer história com muita
competência. "Sniper Americano" é a prova desse talento. No entanto, a produção é
de um maniqueísmo assustador. A ideia contida no roteiro é a de que todo iraquiano é um terrorista. O tom patriota também não ajuda muito e
o filme ainda foi acusado de humanizar o atirador americano Chris Kyle, um
homem frio e calculista que ceifou, a sangue frio, a vida de cerca de 160 pessoas. Não precisa ser nenhum gênio para perceber que o verdadeiro terrorista da história é o próprio Kyle. Porém, isso não foi
problema para o público norte-americano que abraçou o filme transformando-o num
grande sucesso de bilheteria. Como escrito em artigo na revista Carta Capital: é a história de um herói ou a glorificação da violência americana no Iraque?
8- O Jogo da Imitação: O filme é cheio de boas intenções, mas se transformou num grande equívoco cinematográfico.
A história de Alan Turing que inventou aquilo que foi considerado o primeiro
computador, tenta se desenvolver em duas partes distintas que se conectariam em algum momento da projeção. Ao mesmo tempo em que o matemático tenta desvendar códigos secretos nazistas
para tentar dar fim a II Guerra Mundial, Turing precisa esconder sua
homossexualidade, comportamento condenado à época e que acarretaria sua prisão
se descoberto. O filme tenta intercalar essas duas camadas: os segredos que
precisam ser revelados e os segredos que precisam ficar escondidos. O resultado, entretanto, é insatisfatório. As atuações são
descabidas resvalando para um tom piadista que enfraquece a tensão vivida pelos
personagens. Apenas em uma cena ou outra conseguimos vislumbrar traços de
verdadeira intensidade e entrega, e todos estão nas mãos do ator Benedict
Cumberbatch que protagoniza a obra. Dos oito, é o mais fraco.
Muito boa sua análise sobre os filmes desse ano, estava mesmo querendo ler algo assim, completo, a respeito deles.
ResponderExcluirSó pude assistir dois destes -O Grande Hotel Budapeste e a Teoria de Tudo, muito bons todos os dois, grandes atores, cenários e histórias.
Gostaria imensamente de ver Birdman e estou torcendo para ele, embora não tenha ainda assistido ao filme, mas vi o ator Michael Keaton noutro dia no programa da Ellen de Generis e percebi que este foi o papel de sua vida, ele está muito confiante e realizado, fora isso, gosto do gênero reflexivo e debochado de Hollyood sobre si mesma.
Vamos aguardar para ver o desfecho de hoje à noite, mas tenho minhas dúvidas com relação à Academia, que parece-me gostar muito de filmes ufanistas e o tal Sniper Americano é bem ao gosto de Hollyood.
um abraço carioca
Beth, obrigado pelas palavras. Ainda bem que Sniper Americano não ganhou nada, né?...rs...Grande abraço e obrigado por visitar o blog.
ExcluirOps, Sniper ganhou melhor edição de som, mas é um prêmio menor.
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